sexta-feira, 27 de novembro de 2020

25 dicas para não errar no concurso, na prova, no Enem ou no vestibular

 1ª) Custou CINCOENTA reais.

O certo é CINQUENTA (sem trema). Talvez por influência de cinco, há quem escreva cincoenta, mas isso não passa de invenção de comediante e de deputado.

O trema foi abolido pelo novo acordo ortográfico, mas a pronúncia continua a mesma, assim como frequente, consequência, tranquilo, bilingue, aguentar, pinguim, linguiça, sequestro, ambiguidade e sequência.

Cincoenta nunca teve registro no VOLP nem em nossos principais dicionários. É uma prática de segurança usada em cheques para evitar falsificação, assim como hum, treis, trêz, treiz, deiz, seicentos e seisentos.


E o correto é QUATORZE ou CATORZE?

Tanto faz como tanto fez, assim como QUOTA e COTA, QUOCIENTE e COCIENTE, QUOTIDIANO e COTIDIANO. As duas formas são aceitáveis. É bom lembrar que QUATORZE nunca se escreveu com trema (a vogal u é seguida de a e, além disso, o acento foi abolido pela nova reforma ortográfica).


2ª)  Está fazendo zero GRAUS.

Pelo visto, o frio é tanto que congelou a concordância. ZERO é singular, portanto o correto é “zero GRAU, zero HORA e zero QUILÔMETRO”.


3ª)  SÃO uma hora da tarde?             

O verbo SER sempre concorda com as horas: "É uma hora da tarde"; "SÃO treze horas"; "SÃO duas horas"; "SÃO dez horas"; "É uma e dez da madrugada"; "É zero hora".

Assim sendo, "SÃO doze horas", mas "É meio-dia"; "SÃO doze horas e 30 minutos", mas "É meio-dia e meia". A mesma regra vale para distâncias: 'SÃO sete quilômetros', mas 'É um quilômetro', e datas: 'SÃO doze de outubro', mas 'É primeiro de outubro'.


4ª) ANEXO seguem os documentos.

A forma ANEXO corresponde a anexado e deve concordar com o substantivo a que se refere:

“ANEXOS seguem os documentos”

"ANEXA segue a nota fiscal"

"Os documentos solicitados estão ANEXOS"


A forma EM ANEXO é invariável, isto é, não vai para o feminino nem para o plural: “EM ANEXO, seguem os relatórios”; "Em anexo, segue a fatura'; "Em anexo, vão as oferendas".

                  

5ª) Ele sempre QUIZ estudar.

O certo é ele QUIS.

O som "zê" na conjugação do verbo QUERER deve ser grafado sempre com "s": eu quis, tu quiseste, ele quis, nós quisemos, vós quisestes, eles quiseram, quando eu quiser, se eu quisesse, quisera... QUIZ existe, mas significa questionário, programa de perguntas e respostas. Se escrever 'Se Deus quizer', Deus não vai querer.

                  

6ª) Ele REQUIS seus direitos.

O certo é ele REQUEREU.

O verbo REQUERER significa "pedir por meio de requerimento, reivindicar, solicitar". REQUERER, na sua conjugação, não segue o verbo "querer".

Nos tempos do pretérito, segue o modelo dos verbos regulares da 2ª conjugação: se ele VENDEU, BEBEU, COMEU, RECEBEU e APRENDEU, ele REQUEREU. REQUIS é invenção.

Eu QUERO > eu REQUEIRO > eu VENDO

Eu QUIS > eu REQUERI > eu VENDI

Eu QUISERA > eu REQUERERA > eu VENDERA

Se eu QUISESSE > se eu REQUERESSE > se eu VENDESSE

Quando eu QUISER > quando eu REQUERER > quando eu VENDER

7ª) Não estrupe a nossa língua.

O verbo é ESTUPRAR. ESTUPRADOR é quem comete ESTUPRO, no sentido de violência ou abuso sexual. ESTRUPO ou ESTRUPADA existem, mas não têm nada a ver com ESTUPRO ou ESTUPRADA. Significam tumulto, barulho.


8ª) Não depedre a sala de aula.

O verbo é DEPREDAR. Quem destrói comete DEPREDAÇÃO. Nada tem a ver com pedras. Jogar pedras é APEDREJAR. A palavra vem de PREDAÇÃO e PREDADOR.


9ª) Não seje infeliz. 

Não seje, nem esteje, muito menos veje. Os verbos SER, ESTAR e VER, no presente do subjuntivo, são: SEJA, ESTEJA e VEJA (lembre-se da revista).


10ª) Houveram muitos problemas.

Pelo visto, mais problemas que se imaginava. O verbo HAVER, com o sentido de “existir ou acontecer”, é impessoal (sem sujeito), por isso só pode ser usado no singular. O certo é “HOUVE muitos problemas”.


11ª) Tivemos menas chances.

Pelo visto, MENOS chances do que se imaginava. A forma menas simplesmente é igual a Papai Noel: não existe.


12ª) Cuidado com os degrais.

Assim todos caem. O plural de degrau é DEGRAUS, assim como graus, saraus... A terminação “-ais” é para as palavras terminadas em “-al”: canais, animais, tribunais, aventais, manuais...


13ª) Ele não recebeu os troféis.

Troféis ninguém merece. O correto é TROFÉUS, assim como chapéus, réus, céus... A terminação “-éis” é para as palavras terminadas em “-el”: papéis, pastéis, quartéis, coronéis, tonéis...


14ª) Deixou tudo para mim fazer.

MIM não faz nada, você não é índio. Antes de verbo, na função de sujeito, devemos ter o pronome pessoal do caso reto: “...para EU fazer”. Mim é usado como objeto indireto, objeto direto preposicionado, complemento nominal, adjunto adverbial ou agente da passiva.


15ª) Terá de dividir entre eu e você.

Assim eu fico sem nada. Não há verbo após os pronomes, portanto não exercem a função de sujeito. Em razão disso, devemos usar o pronome pessoal oblíquo: “...entre MIM e você”.

16ª) Policiais não deteram os criminosos.

Deve ser por isso que os criminosos fogem. O verbo DETER é derivado de TER, assim como MANTER, CONTER, RETER, ENTRETER e OBTER, logo deve seguir sua conjugação. Se eles TIVERAM, o correto é DETIVERAM, RETIVERAM, MANTIVERAM, OBTIVERAM, CONTIVERAM e ENTRETIVERAM (e não ENTRETERAM nem ENTERTERAM).


17ª) Foram chamados os que ainda não deporam na CPI.

Assim ninguém vai depor. Os derivados do verbo PÔR, como DEPOR, PROPOR, IMPOR, COMPOR, EXPOR, REPOR, SUPOR, devem seguir sua conjugação. Se eles PUSERAM, o correto é DEPUSERAM, PROPUSERAM, IMPUSERAM, EXPUSERAM, COMPUSERAM, REPUSERAM, SUPUSERAM.


18ª) O juiz já interviu no caso.

Se “interviu”, foi mal. O verbo INTERVIR, assim como PROVIR, CONVIR, ADVIR, SOBREVIR e DESAVIR-SE (desentender-se) deve seguir a conjugação do verbo VIR. Se ele VEIO, “o juiz já INTERVEIO no caso”. Ele VEIO, então ele CONVEIO, ADVEIO, PROVEIO, SOBREVEIO e SE DESAVEIO (se desentendeu).

19ª) Ele não tinha intervido no caso.

Assim não dá. O particípio do verbo VIR é VINDO (igual ao gerúndio), o mesmo para os derivados, como PROVINDO, CONVINDO, ADVINDO, SOBREVINDO e DESAVINDO. O correto, portanto, é “Ele não tinha INTERVINDO no caso”.

20ª) Está prevista uma paralização para a próxima semana.

                   Será um fracasso. Se paralisia se escreve com “s”, as palavras derivadas devem ser grafas com “s”: paralisar e PARALISAÇÃO. Mesma regra para analisar e análise, pesquisar e pesquisa, improvisar e improviso, revisar e revisão, reprisar e reprise. Se não houver s no radical, usa-se IZAR: eterno e eternizar, útil e utilizar, símbolo e simbolizar. Existem cinco exceções: catequese e catequizar, síntese e sintetizar, hipnose e hipnotizar, batismo e batizar, ênfase e enfatizar.

21ª) Ele luta por sua ascenção profissional.

                   Assim fica difícil. Os substantivos derivados de verbos terminados em “-ender” (apreender, pretender, compreender, ascender, estender, ofender, defender, repreender, suspender, distender) devem ser escritos com “s”: apreensão, pretensão, compreensão, extensão, suspensão, repreensão, distensão, defesa, ofensa, ASCENSÃO.

22ª) Viajou a Tókio.

                   Não conheço essa cidade: com acento e “k”. Isso não é português nem inglês, que não tem acentos gráficos. A forma aportuguesada é TÓQUIO.

23ª) Era lutador de karatê.

                   A letra “k” não combina com acento gráfico. É mistura de inglês com português. A forma aportuguesada é CARATÊ.

24ª) Vire a esquerda.

                    Aprender crase em placa de trânsito é um perigo. Formas femininas que indicam “lugar, tempo, modo ou intensidade” recebem acento indicativo da crase: “Vire à esquerda”. 

Tempo: às vezes, à tarde, à noite

Lugar: à direita, à esquerda

Modo: à vontade, às pressas, à francesa

Intensidade: à beça

25ª) Obras à cem metros.

                   Não disse que placa de trânsito é um perigo? Não põe o acento da crase quando deve, e põe quando não deve. Antes de palavras masculinas que não indicam ideia de moda ou maneira (redação à Jorge Amado), não há crase: “Obras a cem metros”.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Semana Santa - Sexta-feira Santa, Sábado Santo e Domingo de Páscoa

 1 - Tendo Jesus celebrado a ceia com os seus discípulos, e tendo sido, na mesma noite, entregue aos poderes do mundo, celebra-se hoje então sua morte sacrifical, sua Paixão e sua cruz gloriosa. Note-se, porém, que, embora entregue por Judas, em ação, diríamos “policial” e criminosa, sua morte é resultante, teologicamente, de sua auto-entrega, para a nossa salvação. No Mistério Pascal do Crucificado e Ressuscitado, não se trata de “morte oferecida”, mas de vida que se doa totalmente por amor, pois somente a vida é dom que se pode ofertar. 



2 - Na sua viva liberdade, então no evangelho, Jesus dirá: “Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho o poder de dá-la,  como tenho poder de recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi de meu Pai” (cf. Jo 10,18). E acrescentamos: o Pai (Deus) não condena o Filho à morte. Ao contrário, salva-o da morte para a mais plena glorificação.   Diríamos que a ressurreição de Jesus é a resposta mais clara do Pai à diabólica perversidade dos opressores de seu Filho.  



3 - Para a compreensão teológica do Mistério Pascal, devemos saber que todo amor verdadeiro está sempre pronto para ser imolado. Deve ser dom de si, efusão que pode chegar ao exaurimento, à “kênosis”, ao esvaziamento total. Dir-se-á certamente que este amor é utópico, irreal, como já noutro texto se expôs. Mas – tenhamos certeza - este é o amor com que Deus criou o mundo e com o qual nos sustenta e envolve. É, sim, o amor que Jesus nos revela em sua missão redentora, amando-nos até o fim (cf. Jo 13,1). Assim, a Páscoa de Jesus manifesta aos nossos olhos o mistério insondável e eterno do Pai. Numa renúncia total de si mesmo, o Crucificado entra para sempre num mistério de imolação e se torna eternamente o Ressuscitado e Senhor (Kyrios), pelo Pai exaltado e glorificado (cf. Fl 2,6-11). Em resumo, podemos dizer que é isto que celebramos na Sexta-Feira Santa.



4 -Acrescentando ainda ao que acima foi dito, queremos notar que a morte, enquanto realidade biológica, é inevitável. Porém, em seu aspecto pessoal, ela tornou-se em Cristo um ato de liberdade e de amor, como vimos acima. Notemos ainda que Deus não hesitou em fazer de seu próprio Filho amado um ser mortal. Assim, conhecendo o desígnio do Pai, o Filho, abandonando-se em suas mãos, é glorificado na morte e torna-se o Salvador do mundo. Como vemos sobretudo em João, Jesus não vence a morte fugindo dela, mas assumindo-a, no ardor da vida.



5 - A propósito, acenando para a morte de Jesus, a primeira antífona da salmodia das Vésperas do Sábado Santo, fazendo eco a Oséias e a Paulo (cf. Os 13,14; 1Cor 15,54-55), vai solenemente cantar: “Ó morte, eu serei a tua morte! Ó Inferno, eu serei tua ruína!”.  Também o Prefácio dos Fiéis Defuntos, confessando a fé na ressurreição, proclama em tom pascal: “Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”. 



6 - Voltando-nos para a liturgia, queremos notar que, neste dia, não se celebra a Eucaristia, como também nenhuma outra liturgia senão a Solene Ação Litúrgica da tarde. É um dia marcado pelo pesar e pelo jejum. De participação viva na Paixão do Senhor, como foi historicamente acontecido. O jejum da Sexta-feira Santa é, como nos ensina a reforma litúrgica, “jejum pascal”, e é desejável que ele se prolongue, quando possível, até o Sábado Santo, numa identificação mais profunda com a prática dos Apóstolos e dos primeiros cristãos, pondo em prática o que o Senhor disse em Mt 9,14-16 e Lc 5,33-35, ou seja, que, quando ele lhes fosse tirado, os discípulos então jejuariam.



7 - Note-se que na Sexta-feira Santa  o próprio clima da igreja é de paixão. Ela está despojada: altar desnudado, sem flores, sem som festivo, sem velas e sem canto no início da celebração. Apenas na hora da comunhão coloca-se sobre o altar uma pequena toalha, o corporal e as âmbulas. Saibamos, porém, que nem tudo na Sexta-Feira Santa é dor e tristeza. Já foi dito que, na espiritualidade do Mistério Pascal, a cruz se mergulha na glória e a tristeza se converte em alegria. Por isso, a cruz, em rito solene, é mostrada aos fiéis e por eles adorada, momento em que se cantam não apenas os lamentos do Senhor, mas também cantos da cruz triunfante e gloriosa, e isto supõe a desejável formação litúrgica das equipes de celebração.



8 - Como diz o Diretório Litúrgico da CNBB, “na glória da cruz brilha o mandamento novo do amor; no brilho da cruz resplandece a Eucaristia, o sacramento  do amor; e no resplendor da cruz somos chamados a fazer o que ele nos mandou: "Fazei isto em memória de mim". Toda a Quinta-Feira Santa então como que se torna presente, de maneira sacramental, na Ação Litúrgica que celebramos, e em verdadeira anamnese litúrgica.



9 - A Igreja celebra na Sexta-Feira da Paixão, como veremos,  uma solene ação litúrgica, na parte da tarde, constituída de quatro partes: Liturgia da Palavra, oração universal, adoração da Cruz e comunhão eucarística, esta guardando memória da noite anterior, com hóstias consagradas na missa solene da Ceia do Senhor, como acima foi afirmado.



10 - Na celebração solene, o rito inicial é feito em silêncio e sem canto de entrada e sem a saudação e o ato penitencial habituais. Chegando ao altar, o sacerdote se prostra ou se ajoelha. Também a ajoelhar-se, por um instante, são convidados os ministros e toda a assembléia celebrante.  Logo após, dirigindo-se ao altar, sem saudar a assembleia, o sacerdote reza uma oração própria, sem o “Oremos”, e se inicia a Liturgia da Palavra. Na primeira leitura,  Isaías  fala-nos do servo padecente, que a liturgia aplica a Cristo, o verdadeiro servo de Deus. O salmo 31[30] é outra passagem profética que se aplica ao servo sofredor. Já a segunda leitura, da Carta aos Hebreus, é uma revelação bíblica do sacerdócio de Cristo, sacerdócio único, do qual todos nós participamos pelo Batismo. Na leitura da Paixão, aplica-se a mesma orientação do Domingo de Ramos.



11 - A Liturgia nos revela não só que o Cristo crucificado exerce a sua realeza a partir da Cruz, como João nos mostra na leitura da Paixão, mas é também ele o verdadeiro e único sacerdote do Reino de Deus Pai, na perícope bíblica da segunda leitura. Podemos afirmar que João lança um olhar mais teológico sobre a Paixão do Senhor, não se preocupando com uma correta narrativa histórica. Faz parte ainda da Liturgia da Palavra a Oração Universal, com suas dez intenções. Tudo indica que tal oração dá origem às preces da comunidade em nossas missas e se inspira nas recomendações de São Paulo a Timóteo (cf. 1Tm 2,1-2).



12 - Esclarecendo um pouco mais o que acima se diz, queremos dizer que João, por exemplo,  deixa entender que Pilatos  não tem poder sobre Jesus,  mas é Jesus, em sua soberania e fidelidade ao Pai, que julga Pilatos, representante do poder político e opressor. Na verdade, Pilatos se apresenta como num teatro, e como péssimo ator, entrando e saindo em seu próprio recinto, e cada vez mais tonto, como barata. Pilatos se apresenta, na  verdade, como um juiz medíocre, isto sim. Na mesma compreensão, João faz ver, igualmente, que não são as autoridades religiosas que condenam o Divino Mestre, como parece, mas é Jesus, em sua soberania, que as condena, por serem elas, naquele contexto, igualmente opressoras.



13 - No segundo momento da Ação Solene, vamos ter a Adoração da Cruz. Ela é trazida, processionalmente, da sacristia ou do fundo da igreja, pelo diácono ou pelo sacerdote, ladeado por dois acólitos, com velas acesas e coberta com véu vermelho. É então mostrada aos fiéis num rito em que, por três vezes, com o canto “Eis o lenho da cruz...”, é desvelada. É previsto para esse momento um pequeno instante de adoração coletiva e silenciosa, ficando os fiéis então de joelhos. Para facilitar a adoração individual, o sacerdote ou um ministro coloca-se diante do altar segurando a Cruz e cada fiel se aproxima para o seu gesto de adoração. Nesta adoração respeite-se a espiritualidade dos fiéis, a qual pode ser expressa pelo tradicional beijo, pela genuflexão, ou inclinação da cabeça ou do corpo.



14 - Saibamos que a Cruz, na leitura cristã, não deixa de ser penosa, sobretudo para os pobres, mas é também cruz gloriosa, triunfante, pois é o madeiro sagrado de nossa redenção. Na vivência da espiritualidade do Mistério Pascal,  não queiramos pedir a Deus uma cruz leve para a nossa vida, uma “cruz de isopor”, diríamos, mas aceitemos a que Ele nos destinou, feita certamente sob a nossa medida. Na vida cotidiana, como também na liturgia, não seja a cruz então celebrada e vivida como “sinal negativo”, como “cruz dolorosa”, esta sempre inclinada a provocar mais ainda o "dolorismo" em tantos cristãos. Terminado o rito da adoração, a Cruz é colocada no centro do altar, com as duas velas nas extremidades, ficando elas acesas até o final da celebração.



15 - O terceiro e último momento da liturgia é o da comunhão. Como se falou antes, é colocada sobre o altar apenas uma pequena toalha, o corporal e as âmbulas, contendo hóstias consagradas na missa da Quinta-Feira Santa. Ao som de matraca, se possível,  (que contrasta com o som da campainha)  por ministros as âmbulas são trazidas da capela ou do lugar digno em que foram recolhidas e guardadas na missa da Quinta-Feira Santa. Aqui então,  simbólica e sacramentalmente, une-se a liturgia da Sexta-Feira Santa à da Ceia do Senhor. Após a oração do Pai Nosso, como na missa, mas sem a oração e o abraço da paz, o rito da fração do pão e o canto ou a recitação do Cordeiro de Deus, reza-se o 'Eis o Cordeiro' com sua resposta 'Senhor, eu não sou digno/a' e é distribuída então a comunhão aos fiéis e, caso haja ainda hóstias consagradas, estas voltam novamente para o lugar de reposição, observando-se o mesmo rito em que foram levadas ao altar. Não há ofertório nem consagração ou oração Eucarística, pois não há a renovação do Sacrifício.



16 - A exemplo do rito inicial, também o rito final é simples: após a oração depois da comunhão, o sacerdote estende as mãos sobre o povo e pede a Deus a bênção sobre ele. Omitem-se os avisos, a bênção final e a despedida, e todos se retiram em silêncio.




Leituras bíblicas da Sexta-Feira da Paixão - 'Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem' / 'Mulher, eis aqui o teu filho' / 'Em verdade eu te digo: estarás comigo no Paraíso' / 'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?' / 'Tudo está consumado' / 'Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito':


1ª leitura: Is 52,13-53,12


 


Salmo Responsorial: 31(30),2.6.12-13.15-16.17.25 (R/. Lc 23,46)


2ª leitura: Hb 4,14-16; 5,7-9


Paixão do Senhor: Jo 18,1-19,42

1 - A tradição cristã sempre associou a noite da ressurreição à noite da páscoa judaica, descrita em Ex 12,1-14, com o caráter, porém, de vigília em honra do Senhor. E a Igreja, a exemplo de seu mestre, não celebra também a Eucaristia desde a noite de Quinta-Feira Santa, até que o Senhor ressuscite verdadeiramente (cf. Lc 22,16). O Sábado Santo se caracteriza também como dia de silêncio e de pesar, mas vivido na expectativa da ressurreição do Senhor. Tornou-se hábito chamar o Sábado Santo de Sábado de Aleluia, mas o correto é chamá-lo de Sábado Santo, porque durante o dia Cristo está morto no túmulo.

Assim como na Sexta-feira Santa, não se celebra a Eucaristia. As únicas celebrações que fazem parte são as da Liturgia das Horas. É proibido celebrar qualquer outro sacramento, exceto o da Confissão e da Unção dos Enfermos. São permitidas exéquias, mas sem celebração de Missa. A exceção para a qual a Eucaristia é permitida é no caso de viático, isto é, em perigo iminente de morte.



2 - Mãe de todas as santas vigílias, na expressão de Santo Agostinho, a Vigília Pascal faz resplandecer no horizonte da vida humana a recapitulação de todo o universo em Cristo. É a noite gloriosa do Senhor, que dá dimensão e sentido também à noite do Natal. Nesta vigília, a Palavra de Deus vai ressoar no coração de toda a Igreja, mostrando a todos os fiéis como Deus é fiel no cumprimento de suas promessas. Entoa-se solenemente o Glória, e, depois das longas semanas da Quaresma, volta-se a entoar o Aleluia em verdadeira exultação pascal.



3 - A liturgia desta Sagrada Vigília vai, assim, se desenrolando aos nossos olhos como uma celebração cada vez mais iluminadora de nossa vida, dando-lhe um sentido inteiramente novo, encorajando a nossa existência para a nobreza de uma vida fraterna. Assim, o Círio Pascal, preparado, aceso e conduzido no início da celebração, em rito processional, como que dissipando as trevas do mundo, no simbolismo da igreja apagada, lembra-nos a coluna de fogo, na qual Javé precedia, na escuridão da noite, o povo de Israel ao sair do Egito (cf. Ex 13,21-22). Cristo é a luz do mundo, e quem o segue não anda nas trevas (cf. Jo 8,12), eis o simbolismo último do Círio Pascal.



4 - O tesouro maior da liturgia encontra-se, pois, nas celebrações desta noite. Como já se falou, o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor é a celebração mais importante na vida da Igreja, com sua posição mais alta na escala da Liturgia. São quatro os momentos litúrgicos da Vigília Pascal: a Liturgia do Fogo e da Luz, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Batismal e, encerrando, a Liturgia Eucarística.



LITURGIA DA LUZ E DO FOGO



5 - Com a igreja apagada, inicia-se a Liturgia da Luz, na porta da igreja ou em outro local apropriado, com a bênção do fogo e a preparação do Círio, estas com ricas palavras alusivas a títulos do Senhor: na incisão vertical do Círio: “Cristo, ontem e hoje”; na incisão horizontal:  “Princípio e fim”;  na colocação da primeira e da última letra do alfabeto: “Alfa e Ômega”, ou “A e Z”; na inserção dos números do ano civil, como que inserindo o tempo atual na eternidade: “A ele o tempo” (1º número) “e a eternidade” (2º número), “a glória e o poder” (3º número) “pelos séculos sem fim. Amém” (4º número)). Pregando os grãos de incenso no Círio, em forma de cruz, de cima para baixo (3) e da esquerda para a direita, nas extremidades (2), como as cinco chagas, o texto continua: “Por suas santas chagas, (1) suas chagas gloriosas (2), o Cristo Nosso Senhor (3) nos proteja (4) e nos guarde. Amém (5)”.



6 - Preparado o Círio, o sacerdote vai acendê-lo no fogo novo, benzido no início, dizendo: “A luz do Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas de nosso coração e de nossa mente”. Em seguida, elevando o Círio, canta por três vezes “Eis a luz de Cristo”, a que a assembleia responde “Demos graças a Deus!”.



7 - O Círio então é conduzido processionalmente, do local preparado ou da porta  pelo centro da igreja. Os fiéis podem acender nele as suas velas. Na terceira vez do canto, acendem-se as luzes da igreja, apagada desde o início, e o Círio é então colocado no lugar próprio, onde vai ser incensado. Canta-se em seguida o Exultet, chamado também "Precônio Pascal” (Proclamação da Páscoa), findo o qual se encerra a Liturgia da Luz, momento em que os fiéis apagam suas velas.  



Notas:



a) –  No movimento para a Igreja, convém que apenas o Círio Pascal guie a procissão, dispensando-se então a cruz processional e as tochas.  A explicação é simples: a Cruz e o Círio não são apenas “símbolos litúrgicos”, mas “sinais cristológicos”, e na Liturgia deve-se evitar a duplicidade do mesmo sinal, quando possível. Quanto às tochas, estas não podem obscurecer a luz do Círio, como que querendo completá-la. Atente-se ainda para a lógica do rito: os fiéis é que acompanham o Círio, na lembrança feliz de Jo 8,12, onde Jesus diz: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida".


b) – É recomendável para o Tempo Pascal, quando possível, que o Círio Pascal seja conduzido na procissão de entrada, a fim de se enfatizar mais a sua importância na dinâmica inicial da celebração. Nesse caso, penso que a cruz processional e as velas podem ficar dispensadas, dada a explicação acima.



LITURGIA DA PALAVRA



8 - Nove leituras são propostas na Liturgia da Palavra da Vigília Pascal, sete do Antigo Testamento e duas do Novo. As do AT podem ser reduzidas a três, permanecendo as duas do Novo Testamento, sendo que, do AT, a terceira leitura não pode ser omitida, por tratar da saída do povo de Israel do Egito, figura, pois, da libertação definitiva operada por Deus através de seu Filho Jesus. Cada leitura é seguida de um salmo responsorial (a 3ª e a 5ª, de cântico bíblico) e de uma oração sálmica, presidencial, esta muito objetiva, ligada também à própria leitura. Os textos bíblicos do AT aludem à criação e às intevenções de Deus na história da salvação, tudo apontando para a realização plena em Jesus Cristo.



9 - Encerradas as leituras do Antigo Testamento, entoa-se solenemente o Glória, já a partir de agora na harmonia do órgão e de instrumentos musicais, estes em silêncio, como sabemos, desde a noite da Quinta-Feira Santa. Diferente do que acontece na missa, o Glória aqui é cantado após as leituras. Ele é como um salmo cristão, marcando a passagem do Antigo para o Novo Testamento. Acendem-se também, neste momento, as velas do altar, tirando sua chama do Círio Pascal. Aqui a Igreja se reveste de toda a alegria pascal. Segue-se então ao canto do Glória a primeira leitura do Novo Testamento (Rm 6,3-11), que é uma alusão profunda ao fato neotestamentário, ou seja, a regeneração pelo Batismo, o homem novo, na expressão de São Paulo. Todos nós, sepultados com Cristo, pelo Batismo, com Cristo também ressuscitamos. É, pois, a novidade total, razão última da redenção operada por Deus.



10 - É interessante notar que, com a última leitura do Antigo Testamento, este não é mais lido na Liturgia até Pentecostes, fim do Ciclo Pascal. Como primeira leitura, a Liturgia vai usar os Atos dos Apóstolos, como que contando e revelando a sua própria história, já então mergulhada do mistério do Cristo Ressuscitado.



11  - Cantado, após a leitura de São Paulo, o Salmo aleluiático da ressurreição (Sl 118[117], pode-se entoar solenemente o tríplice Aleluia, proclamando, em seguida, o evangelho, levando-se em consideração o ciclo anual de A, B e C. Com a homília, encerra-se a segunda parte da liturgia.



Textos bíblicos da Vigília Pascal - 'Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição':


 


1ª leitura: Gn 1,1-2,2, ou breve: 1,1.26-3a


 


Salmo 104(103),1-2a.5-6.10.12.13-14.24.35a ou Sl 33(32),4-5.6-7.12-13.20.22


 


 2ª leitura: Gn 22,1-18 ou breve: 22,1-2.9a.10-13.15-18


 


 Salmo 16(15), 5.8.9-10.11


 


 3ª leitura: Ex 14,15-15,1a


 


 Cântico bíblico: Ex 15,1b-2.3-4.5-6.17-18


 


 4ª leitura: Is 54,5-14


 


 Salmo 30(29),.2.4.5-6.11.12a.13b


 


 5ª leitura: Is 55,1-11


 


 Cântico bíblico: Is 12,2-3.4bcd.5-6


 


 6ª leitura: Br 3,9-15.32-4,4


 


 Salmo 19(18),8.9.10.11


 


 7ª leitura: Ez 36,16-17a.18-28


 


 Salmo 42(41),3.5bcd; 43(42),3.4


 


 8ª leitura: Rm 6,3-11


 


 Salmo 118(117),1-216ab-17.22-23


 


 9 – Evangelho: Ano A: Mt 28,1-10      Ano B: Mc 16,1-7          Ano C: Lc 24,1-12    



LITURGIA BATISMAL



12 - Como se sabe, sempre a noite da Vigília Pascal do Sábado Santo foi escolhida para a celebração mais apropriada do Batismo, principalmente de adultos. Ainda hoje há também esta recomendação pastoral, infelizmente não levada muito a sério por algumas comunidades. Nesta parte da liturgia, além do batismo daqueles que foram preparados na Quaresma, faz-se também a renovação das promessas batismais de todos os fiéis. Este é, aliás, um rito que deve sempre ser vivido e valorizado em função do sentido pascal, assumido pelo Batismo, pois, pela renovação das promessas batismais, atinge-se a culminância dos exercícios quaresmais.



13 - Inicia-se, pois, essa terceira parte da Vigília Pascal com o chamado dos batizandos pelo presidente e apresentação deles à assembleia, seguindo-se o canto da Ladainha de Todos os Santos e a bênção da água batismal. Na bênção da água, pode haver a imersão nela do Círio Pascal e sua emersão, significando, pela imersão, a nossa morte com Cristo e, na emersão, a nossa ressurreição com ele. Prossegue então a liturgia: com o Batismo (se houver), com a renovação das promessas batismais e com a aspersão da assembleia, encerrando-se a terceira parte da liturgia. No fim da aspersão, os fiéis apagam as suas velas, as quais são acesas no início da renovação das promessas batismais.



14  -Ainda com referência à Liturgia Batismal, é preciso que se observe o seguinte: a Ladainha de Todos os Santos só é cantada ou rezada quando houver batismo ou bênção da água batismal. Quando o sacerdote benze a água só para a aspersão da assembleia, a ladainha é omitida e, nesse caso, a oração é também mais simples, reduzida, não tão rica como a do rito batismal, em que há a imersão do círio, como falamos. De fato a oração com o Círio é consecratória, numa referência muito rica à criação e à história da salvação.



15 - Pelo que foi exposto acima, quando não houver batismo é aconselhável fazer pelo menos a bênção da água batismal, que será usada na aspersão e nos batizados do Domingo da Páscoa, podendo então aí cantar a Ladainha, empobrecendo menos a liturgia. O que não se deve fazer, e isto acontece talvez por desconhecimento, é cantar a Ladainha sem que haja a celebração do batismo nem bênção da água batismal.



LITURGIA EUCARÍSTICA



16 - A quarta e última parte da grande Vigília Pascal do Sábado Santo é a Liturgia Eucarística, celebrada pela última vez na noite da Quinta-Feira Santa. Aqui ela volta, tendo em vista o cumprimento da profecia do próprio Cristo, segundo a qual ele só voltaria a celebrá-la no Banquete eterno do Reino do Pai (cf. Lc 22,16).



17 - A Eucaristia, que agora então se celebra, inicia-se com as preces da comunidade, seguida da preparação e apresentação das oferendas, pois toda a Liturgia da Palavra e ritos iniciais foram liturgicamente celebrados nas partes anteriores da Vigília Pascal.



18 - Podemos dizer que a fisionomia dessa última parte é de alegria pascal, de Igreja enternecida com a luz do Cristo Ressuscitado, mergulhada no abismo de tão profundo mistério e envolvida com a missão redentora de seu Divino Mestre. A fisionomia dos participantes deve ser então uma fisionomia de ressuscitados, de homens novos, gerados que foram pela graça redentora de Cristo, contemplando agora um horizonte sempre mais resplandecente e mais fúlgido. Fisionomia - devemos insistir - de homens capazes de reconstruir um mundo novo, alicerçado na paz, na justiça, no amor, na concórdia e na fraternidade, onde a Eucaristia brilhe mais intensamente como lugar de partilha, de verdadeira comunhão e de ação libertadora, no sinal vivo do Cristo Ressuscitado.  

1 - O tema central do Domingo da Páscoa, como não poderia deixar de ser, é o da ressurreição do Senhor. “Deus o ressuscitou”, eis a frase principal (cf. At 10,40; Lc 24,34), como fórmula clássica da fé e da pregação cristã. Deus faz justiça ao Filho, ressuscitando-o (cf. Jo 16,10). Ressuscitado, Jesus mostra que as Escrituras falam dele com clareza (cf. Lc 24,25-27) e faz o coração dos discípulos arder (Lc 24,32), dando-lhes a conhecer no partir do pão (Lc 24,30-31). Assim, a ressurreição de Jesus nos dá a certeza de nossa própria ressurreição (cf. Jo 11,25; 14,1-4), como também a certeza de sua presença mais viva entre nós, principalmente quando nós a pedimos (cf. Lc 24,29).



2 - Na reforma da liturgia, somente o Natal e a Páscoa têm sua celebração com oitava, isto é, com um prolongamento da festa por oito dias, onde a liturgia dá ênfase ao tema central comemorado. Também, a exemplo do Natal, a missa do Domingo da Páscoa tem suas perícopes evangélicas mudadas, de conformidade com o fato histórico. Assim, na missa da noite (4ª parte da Vigília Pascal do Sábado Santo, ligada, em essência, à 2ª parte - Liturgia da Palavra), o Evangelho, segundo o ciclo anual de A, B e C (Mt 28,1-10; Mc 16,1-12 e Lc 24,1-12), sempre vai trazer o relato do sepulcro vazio e das aparições às santas mulheres. Já na missa do dia, o evangelho é de João (Jo 20,1-9), que relata a corrida de Pedro e de João ao sepulcro, diante do fato narrado pelas mulheres. Pode também ser o da Vigília Pascal. 



3 - Nas missas vespertinas, o evangelho pode ser o de Lc 24,13-35, que narra a desilusão dos discípulos de Emaús, na tarde daquele primeiro dia da semana, isto é, no Domingo da Ressurreição, quando então voltaram de Jerusalém para a aldeia, comentando todos os acontecimentos daqueles dias. Vê-se, pois, que as perícopes evangélicas narram os fatos de maneira cronológica, ou seja, na ordem própria dos acontecimentos.



4 - O Domingo da Páscoa é então o grande Dia do Senhor (Sl 118[117]), 24), que torna pascais todos os domingos e faz de todas as celebrações litúrgicas, centradas como estão no Mistério Pascal de Cristo, momentos salutíferos de redenção, de exaltação e de louvor ao Deus vivo e verdadeiro (cf. Ap 1,17-18). Seu clima é então continuação e plenificação ainda mais daquilo que falamos sobre a Celebração Eucarística da Vigília Pascal e, na qualificação litúrgica, ele é “o domingo dos domingos”, na expressão feliz de Santo Atanásio.



5 -  No evangelho da missa do dia (Jo 20,1-9), são interessantes alguns detalhes: Pedro e João, diante do relato das mulheres, correm ao sepulcro, mas João chega primeiro. Seria aqui o amor do “discípulo amado” a mostrar-se mais forte e dinâmico, por isso correu mais? Diz o evangelho que João, porém, não entrou no sepulcro. Seria esperar e respeitar a primazia do Príncipe dos Apóstolos? Pedro então chega, como diz o evangelho, vê os detalhes do sepulcro vazio e nele entra. Em seguida, entra também João, que “vê” e “crê”. A revelação de que “João vê e crê” seria uma virtude do “discípulo amado”? Como os dois discípulos de Emaús, Pedro e João não tinham também, ainda, compreendido as Escrituras.



Uma nota para o que aqui se expõe: Na redação destes episódios, segui o entendimento tradicional de que o “discípulo amado” era João, sem preocupar-me com entendimentos contrários de biblistas e exegetas.



6 - Vejamos então no Domingo da Páscoa um convite sereno para vivermos a ressurreição, desde já, na dinâmica do amor e da fraternidade. E Cristo, o Ungido de Deus, vai exigir de nossa vida que ela seja límpida, transparente, espelho do bem e sinal também de salvação, numa profunda sensibilidade para o amor fraterno, na prática da justiça, enfim como vida plenamente missionária.



7 - Finalmente, a partir deste domingo, até Pentecostes, começa a antífona mariana “Regina coeli” (“Rainha do céu, alegrai-vos...”), na oração noturna, chamada “Completas”, da Liturgia das Horas. Com o Domingo da Páscoa começa também o Tempo Pascal, que se encerrará em Pentecostes. Para os Santos Padres, o Tempo Pascal é como "um grande Domingo", com duração de cinquenta dias.



Leituras bíblicas do Domingo da Páscoa - 'Não procureis entre os mortos, Ele está vivo':


 


1ª leitura: At 10,34a.37-43


 


Salmo 118(117),1-2.16ab-17.22-23


 


2ª leitura: Cl 3,1-4 (ou 1Cor 5,6b-8)


 


Evangelho: Jo 20,1-9  - (ou o Evangelho da Vigília) – À tarde pode ser: Lc 24,13-35

Semana Santa - Domingo de Ramos e Quinta-feira Santa

 1 - Com o Domingo de Ramos e da Paixão dá-se então início à Semana Santa, e sua liturgia é a mesma para todos os anos, exceto o evangelho, que será segundo o evangelista sinótico (Ano A, Mateus; Ano B, Marcos; e Ano C, Lucas), tanto para o evangelho da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém como o da leitura da Paixão. Como João narra também a entrada triunfal, sua perícope (12,12-16) pode também ser usada de maneira facultativa no lugar do sinótico, mas, observemos, a leitura da Paixão será sempre a dos sinóticos.



2 - Como o próprio nome indica (Ramos e Paixão), a celebração deste dia funde-se em dois aspectos fundamentais, que vão estar unidos e associados em toda a Semana Santa, na referência ao Mistério Pascal, ou seja, como paixão e glória, morte e ressurreição, aspectos estes inseparáveis e que, depois, vão transparecer mais ainda na liturgia do Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor.


 


3 - Saibamos que o Domingo de Ramos e da Paixão se situa ainda dentro da Quaresma, na verdade é o seu sexto domingo, pois a Quaresma se prolonga até à tarde da Quinta-Feira Santa, e os dias anteriores a esta gozam também de precedência litúrgica, não podendo, pois, neles celebrar nenhuma solenidade. Assim, por exemplo, caso a Solenidade da Anunciação do Senhor, que se celebra oficialmente em 25 de março, caia na Semana Santa, ela é transferida para a segunda-feira após a oitava da Páscoa.


 


4 - Uma nota importante: Na Quinta-Feira Santa, na parte da manhã, portanto ainda dentro da Quaresma, mas com a cor branca, o bispo diocesano concelebra com o seu presbitério, e com os fiéis, na Catedral ou em outro local apropriado, a Missa do Crisma, onde consagra os Santos Óleos (Crisma, Enfermos e Catecúmenos), os quais serão usados durante o ano nas celebrações dos sacramentos, como também nas ordenações e na dedicação das igrejas e dos altares. Nessa missa os presbíteros também renovam publicamente as suas promessas sacerdotais.


 


5 - Na liturgia do Domingo de Ramos, vamos ter, no início, a procissão de ramos, como comemoração da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Antes da procissão, que deve ser fora da igreja, proclama-se o evangelho dessa entrada, segundo o evangelista do ano, na sua sensibilidade própria, benzem-se os ramos e realiza-se então a procissão festiva até à igreja, onde se dará continuidade à missa a partir já da oração dia, omitindo-se os demais ritos iniciais.


 


6 - Já então na igreja, e no momento próprio do evangelho, é feita a leitura da Paixão do Senhor, segundo o evangelista do ano, leitura que é feita sem solenidade, isto é, omitindo-se a saudação ao povo, o sinal da cruz sobre o livro, o beijo, o incenso e as velas. Apenas se diz no fim: Palavra da salvação. Quando a leitura é feita por diácono, este pode pedir a bênção ao presbítero ou ao bispo. Na ausência de diácono, a leitura da Paixão pode ser feita por um leigo, reservando-se as palavras de Jesus ao presidente.


 


7 - O Senhor entra, pois, em Jerusalém, não montado em lustroso e belo corcel nem em carruagem dourada, tampouco em veículo de última geração, como é próprio dos reis deste mundo, que sempre se encantam com as exterioridades e com as superficialidades. Na simplicidade de Deus, ele entra montado num pobre jumentinho, que ele mesmo mandou os discípulos buscar, informando ao seu dono, caso pedisse explicação, que “o Senhor precisa dele”. Vejam a nobreza do jumentinho: o Senhor precisa dele! Mas, pensemos: será que o Senhor não precisa muito mais de nós? Somos menos nobres que o jumentinho, substituíveis no plano da redenção? Não, claro que não, pois o Senhor entrou em Jerusalém para morrer por nós, não pelos animais, por mais úteis e necessários que eles sejam.


 


Anotações para o Domingo de Ramos:


 


a) - Em todas as missas faz-se a memória da entrada do Senhor em Jerusalém, seja pela procissão ou entrada solene na missa principal, seja pela entrada simples nas outras missas.


b)- A procissão é uma só e deve ser feita na missa com maior concurso do povo.


c) – A entrada solene, mas não a procissão, pode ser repetida antes das missas que sejam celebradas com grande concurso do povo.


d) – A procissão e a bênção de ramos são inseparáveis; onde não houver procissão e missa, não pode haver bênção de ramos. Onde não se abençoam os ramos, a missa se celebra como de costume, com o canto de entrada, a saudação, o ato penitencial e a oração do dia, omitindo-se o Glória.


e) Quanto aos cantos, o momento é de aclamação a Cristo Rei, não de cantar cantos marianos, ao Espírito Santo ou cantos de família.


 


8 - Imitemos, pois, o Deus da simplicidade, levando-o para as nossas vidas, imitando-o no serviço aos irmãos, pois Ele é rei sim, mas Rei servidor. Ele precisa de nós, é verdade, não para carregá-lo como o jumentinho, mas para continuarmos a sua missão salvífica. Saibamos, e com convicção: o Senhor não nos quer para morrermos por ele, mas para com ele morrermos por nossos irmãos.


 


Textos bíblicos do Domingo de Ramos - 'Bendito o que vem em nome do Senhor'


 


Na bênção de ramos:


Evangelho: Ano A: Mt 21,1-11 - Ano B: Mc 11,1-10 - e Ano C: Lc 19,28-40


 


Na missa:


1ª leitura: Is 50,4-7


Salmo Responsorial: 22(21), 8.9.17-18a.19-20.23-24


2ª leitura: Fl 2,6-11


 


Paixão do Senhor:


 


Ano A: Mt 26,14-27,66 (ou 27,11-54)


Ano B: Mc 14,1-15,47 (ou Mc 15,1-39)


Ano C: Lc 22,14-23,56 (ou Lc 23,1-49) 

1 - Na véspera de sua paixão, Jesus orou no Monte das Oliveiras (cf. Mt 26,36) e teve sua paixão concretamente iniciada. Desejando ardentemente celebrar a páscoa com os seus discípulos (cf. Lc 22,14-15), ele então os reúne e com eles celebra a Ceia Santa. Sua morte sacrifical é aqui antecipada sacramentalmente, isto é, sua entrega na cruz, que aconteceria no dia seguinte, aqui se faz real, em mistério, pois a antecipação sacramental da própria morte está fora das estreitezas da ação puramente humana.



2 - O Senhor celebra a Páscoa com os seus discípulos e, nessa celebração, institui a nova Páscoa, a Eucaristia das gerações, onde seu Corpo e Sangue são dados em alimento, única garantia, aliás, de que o verdadeiro amor (do mandamento novo), possa gerar vida, num compromisso missionário e libertador. E com a instituição da nova Páscoa, a Eucaristia, deixa-nos também a plena participação em seu sacerdócio único e eterno. Portanto, Eucaristia e sacerdócio nascem juntos, da mesma fonte (Cristo Nosso Senhor), daí ser inseparáveis.



3 - Sabendo, pois, que chegara a sua hora, o Senhor,  tendo amado os seus, amou-os até o fim (cf. Jo 13,1), isto é, até as últimas consequências, ao extremo do amor. Antes de partir para a casa do Pai, deixa-nos o seu testamento, que não é mero escrito de louváveis desejos ou de meros sentimentos utópicos. Deixa, sim, um mandamento novo, até então só por ele vivido e conhecido, simbolizado no Lava-pés, mandamento do amor eterno. Amor, pois, não como o nosso - frágil, interesseiro, possessivo e de barro, amor rastejante, -  mas amor espelhado em sua vida, cujo segredo vital é  a medida “como eu vos amei”.



4 - A liturgia da Quinta-feira Santa é a mesma para todos os anos, e todos os seus textos são de intensa riqueza. Na oração do dia, “que se concentra na ideia da instituição da Eucaristia como sacrifício e como banquete do amor”, pedimos a Deus que também nós cheguemos à plenitude da vida e do amor. A leitura do Antigo Testamento vai nos falar do cordeiro pascal, cujo sangue serviu de sinal para a libertação do povo de Israel, e a ceia noturna daquele povo foi uma introdução à saída da escravidão, tudo portanto como figura da libertação definitiva que, mais tarde, Deus providenciaria na pessoa de seu próprio Filho, como recordamos na liturgia e atualizamos de maneira sacramental.



5 - Como sabemos, na liturgia o evangelho sempre narra a temática principal da celebração, o que, porém, não acontece na Quinta-Feira Santa, onde a instituição da Eucarística nos é transmitida pela narração de São Paulo, na segunda leitura, como tradição paulina da comunidade primitiva, entendida pelos biblistas e liturgistas como o relato institucional mais antigo.



6 - A celebração da Quinta-Feira Santa é, pois, solene, com incensação, ornamentação da igreja e do altar. Canta-se nela o Glória, que pode ser também ao som de campainha ou de sinos, mas não se canta o “Aleluia” nem se recita o “Creio”. Estes ficam como “reserva litúrgica” para a Vigília Pascal do Sábado Santo: o “Aleluia”, para a aclamação do Evangelho, e o “Creio”, para a celebração do Batismo e para a renovação das promessas batismais da assembleia celebrante.   

    


7 - No evangelho, de João, vemos o exemplo de Jesus, lavando os pés dos discípulos e dando-lhes o mandamento do amor, no rito do “Lava-pés”, que a Igreja também conserva, em mimese litúrgica. Em algumas comunidades já é costume os fiéis lavarem os pés uns dos outros, sem distinção de classes ou de pessoas, o que, segundo nos parece, pode ser mais significativo do que o simples rito que o sacerdote realiza, muitas vezes reduzido a mera sugestão ou a simples observância de rubrica.



8 - No que diz respeito à celebração, a exemplo do que se afirmou sobre o Domingo de Ramos, a liturgia da Quinta-Feira Santa vai estar inserida também na dupla característica do Mistério Pascal: a cruz e a glória, como pode-se ver desde o canto de entrada, inspirado em Gl 6,14 (Gloriar-se na cruz de Cristo), tema caro a São Paulo e que vai estar nítido também na Sexta-Feira Santa. Aqui já é possível afirmar que não se pode compreender uma cristologia da glória sem a relação teológica com a cristologia da cruz. A nossa fé une na verdade uma à outra, tornando-as inseparáveis. 



9 - Como orientação litúrgica, é bom lembrar que na Quinta-feira Santa, em lugar do “Aleluia” canta-se a aclamação do “mandamento novo”, e que,  após o canto do Glória, o órgão e os outros instrumentos musicais devem silenciar-se. Assim, a liturgia mostra claramente que a Igreja já se revestiu do clima da Paixão do Senhor. Podemos dizer então que a alegria da Quinta-feira Santa é, na verdade, uma alegria misturada com a dor, uma alegria reticente, diríamos.



10 - Já, pois, imersa no mistério da Paixão, e imitando o despojamento do Senhor, também no fim da celebração o altar é desnudado, e os ritos finais são omitidos, cedendo lugar à procissão do Santíssimo para a capela lateral, ou outro local apropriado, em transladação. Em seguida, é recomendável a adoração do Santíssimo, porém só até à meia-noite. Após esse horário, recomenda-se que a adoração seja feita sem nenhuma solenidade, uma vez que já se iniciou o dia da Paixão do Senhor. É muito desejável ainda que, nesse dia, onde for possível, se dê a comunhão sob as duas espécies.



11 - Podemos afirmar, teologicamente, que o discurso e os gestos do Cenáculo continuarão vivos em todos os tempos, dado o caráter sacramental da Liturgia. Assim, em cada Eucaristia que celebramos, Cristo põe-se a nosso serviço e continua a lavar-nos os pés, convidando-nos a fazer o mesmo com relação a nossos irmãos. Na verdade, o rito simbólico do “Lava-pés” é um apelo contínuo para vivermos o serviço fraterno, exigência, aliás, que nasce de nossa vida sacramental e eucarística.



12 - A Quinta-Feira Santa quer colocar-nos, na objetividade da Liturgia, diante não simplesmente de um novo mandamento, mas diante da revelação do verdadeiro amor de Deus, manifestado no seu Filho Jesus, amor,  pois, crucificado. Sim, amor crucificado, que se doa totalmente, que não se regozija, pois, com parcialidades ou com limites. Dar-se inteiramente é o segredo desse amor.



13 - Vejamos ainda. A marca do amor divino, revelado em Cristo e demonstrado na Cruz, é a expressão de um amor que não se limita a dar-se somente pelos amigos ou pelos corações nobres, mas dar-se, como oferenda viva, sobretudo pelos inimigos e pecadores. Amor, pois, que não exige retribuição, portanto gratuito e desinteressado. Amor então não possessivo, que respeita a liberdade do ser amado, inclusive quando contraditória aos ditames do amor. Tudo isso o Senhor quis ensinar no rito do Lava-pés, este como símbolo mais eloquente do amor celebrado na Eucaristia e que deve ser sempre o ícone do amor da Igreja. 



14 - A vida cristã deveria ser uma constante epifania do amor crucificado. É preciso, pois, insistir na grandeza desse amor. Na cruz, como se vê,  ele se mostra de braços abertos, a fim de abraçar toda a humanidade, para salvá-la. De mãos cravadas está na cruz, mostrando como que impedidas de agredir e de condenar. Amor, pois, diferente dos amores do mundo, estes, sim, tantas vezes mentirosos, superficiais  e enganadores. Amor crucificado, místico e eterno, que águas torrenciais jamais apagarão (cf. Ct 8,7) e que poderes infernais tentam sempre destruir, vendo-se, ao contrário, sempre por ele  destruídos. Amor que dá a vida e a retoma, amor que é vida, e vida em abundância (cf. Jo 10,10.17-18).



15 - É possível que muitos pensem ser utópico falar de um amor assim num mundo de desamor como o nosso. Mas se o mundo é de desamor é porque ainda não conhece um amor assim. Nós, cristãos, somos responsáveis pela manifestação ao mundo desse amor salvífico, como se falou antes, mas muitas vezes nossa vida é negação e rejeição do amor da cruz. Não raro pedimos a Deus em nossas orações que nos dê uma cruz mais leve, se possível não de madeira, mas de isopor, quem sabe. Não nos passa pela cabeça que uma cruz assim,  de isopor ou de plástico, encomendada por nós, no nosso jeito, não suportaria as exigências do verdadeiro amor.



16 - Podemos notar então que tudo na Quinta-Feira Santa nos leva à descoberta do amor. Cristo nos dá um mandamento novo, e no rito do “Lava-pés”, como já foi lembrado,  ele nos mostra que veio não para ser servido, mas para servir, mandando-nos fazer o mesmo, a fim de o seguirmos nas trilhas da redenção. É ele, pois, que nos escolhe e nos ama primeiro, na nossa condição real de pecadores. Não espera que nos tornemos dignos de seu amor, mas ama-nos em nossa indignidade. Esta é a ótica de todo o Mistério Pascal: Deus nos ama com amor misericordioso, acima de nossa compreensão. Não nos ama porque somos amáveis, mas se somos amáveis é porque ele nos ama.




Leituras bíblicas da Quinta-Feira Santa - 'Fazei isto em memória de mim':


 


1ª leitura: Ex 12,1-8.11-14


Salmo Responsorial: 116B(115),12-13.15-16bc-17-18 (R/. cf. 1Cor 10,16)


2ª leitura: 1Cor 11,23-26


Evangelho: Jo 13,1-15


Ano litúrgico / Diferença entre os tipos de celebração: Solenidade, festa e memória / Graus e precedência dos dias litúrgicos

 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


01 - Chama-se Ano Litúrgico o tempo em que a Igreja celebra todos os feitos salvíficos operados por Deus em Jesus Cristo. "Através do ciclo anual, a Igreja comemora o mistério de Cristo, desde a Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor" (NUALC nº 43 e SC nº 102).


02 - Ano Litúrgico é, pois, um tempo repleto de sentido e de simbolismo religioso, de essência pascal, marcando, de maneira solene, o ingresso definitivo de Deus na história humana. É o momento de Deus no tempo, o "kairós" divino na realidade do mundo criado. Tempo, pois, aqui entendido como tempo favorável, "tempo de graça e de salvação", como nos revela o pensamento bíblico (Cf. 2Cor 6,2; Is 49,8a).


03 - As celebrações do Ano Litúrgico não olham apenas para o passado, comemorando-o. Olham também para o futuro, na perspectiva do eterno, e fazem do passado e do futuro um eterno presente, o "hoje" de Deus, pela sacramentabilidade da liturgia (Cf. Sl 2,7; 94(95)7; Lc 4,21; 23,43). Aqui, enfatiza-se então a dimensão escatológica do Ano Litúrgico.


04 - O Ano Litúrgico tem como coração o Mistério Pascal de Cristo, centro vital de todo o seu organismo. Nele palpitam as pulsações do coração de Cristo, enchendo da vitalidade de Deus o corpo da Igreja e a vida dos cristãos.


TEMPO CÓSMICO E VIDA HUMANA


05 - Como sabemos, a comunidade humana vive no tempo, sempre em harmonia com o ano natural ou cósmico, com as mudanças básicas e salutares das quatro estações climáticas. Estas como que dinamizam a vida humana, quebrando-lhe toda possível rotina existencial. A pessoa é, pois, chamada a viver toda a riqueza natural da própria estação cósmica. Na organização da sociedade humana, o ano cósmico é chamado ano calendário ou ano civil. Nele, as pessoas, em consenso universal, desenvolvem as tarefas da atividade humana.


ANO LITÚRGICO E PROJETO DE DEUS


06 - Como a vida humana, no seu aspecto natural, se desenvolve no clima salutar do ano cósmico, assim também a vida cristã, na plena comunhão com Deus, vai viver o projeto do Senhor numa dinâmica litúrgica própria de um ano específico, chamado, como vimos, Ano Litúrgico.


07 - O Ano Litúrgico não deve, porém, ser visto como um concorrente do ano civil, porque, mesmo este, é um dom do Criador. Deus, inserindo-se no tempo, através de Cristo, pela Encarnação, santificou ainda mais o tempo. Por isso, todo o tempo se torna também tempo de salvação.


NOTA: as Leituras e Liturgias de cada ano litúrgico são diferenciadas em ANO A, ANO B e ANO C. Isto significa que o cristão, católico assíduo que vá à missa todos os dias ou que pelo menos leia a Liturgia Diária, em três anos completos terá lido e estudado toda a Bíbilia, e se praticar o que ler e aprender todos os dias, em três anos terá acumulado bençãos incalculaveis no caminho da Paz e da Santidade.


SIMBOLISMO DO ANO LITÚRGICO


08 - O Ano Litúrgico tem no círculo a sua simbologia mais expressiva, pois o círculo é imagem do eterno, do infinito. Notamos isso, olhando uma circunferência. Ela não tem começo nem fim, pois, nela, o fim é um retorno ao começo. Não, porém, um retorno exaustivo, rotineiro, mas verdadeiramente um começo sempre novo, de vitalidade essencial.


09 - O círculo é, pois, imagem da vida eterna, e a vida eterna, como sabemos, não clama por progresso, visto não existir na eternidade carência, de forma alguma. A vida eterna - podemos afirmar - permanece em constante plenitude.


10 - Cada ano litúrgico, que celebramos e vivemos, deve ser um degrau que subimos rumo à eternidade do Pai. Em outras palavras, deve ser um crescendo cada vez mais vivo rumo à pátria celeste. Celebrar o Ano Litúrgico é como subir a montanha de Deus, não de maneira esportiva, como alpinista, mas como peregrino do Reino, onde, a cada subida, sente-se mais perto de Deus.


RITMO CÓSMICO DO ANO LITÚRGICO


11 - Como se sabe, o ano civil está inteiramente identificado com o ciclo solar, regendo-se pelos ditames das quatro estações, mas marcado também pelo movimento lunar, onde se contam as semanas. Ano, mês e dia, como frações do tempo, aqui se harmonizam, no desenvolvimento da vida humana.


12 - Na datação cósmica do Ano Litúrgico, seguindo a tradição judaica, os cristãos, no Hemisfério Norte, vão escolher, para a celebração anual da Páscoa, o equinócio da primavera, por este ser ponto de equilíbrio, de harmonia, de duração igual da noite e do dia, de equiparação, pois, entre horas de luz e horas de escuridão, momento de surgimento de vida nova na natureza e de renascimento da vida. Além da estação das flores, no Hemisfério Norte há ainda o simbolismo suplementar da lua cheia, dando a entender que, na ressurreição de Cristo, o dia tem vinte e quatro horas de luz.


13 - No Hemisfério Sul, onde vivemos, não estaremos contudo celebrando a Páscoa na primavera, mas no outono, dada a inversão do equinócio nos dois hemisférios. Daí, a polêmica entre estudiosos da liturgia, os quais reclamam uma data universal, fixa, para a Páscoa, não levando em conta a situação lunar, mas a solar. A Igreja está estudando essa problemática que, ao que tudo indica, virá no futuro.


14 - Nota explicativa: A Igreja, hoje, celebra a Páscoa não no dia quatorze do mês de Nisã, isto é, na data da páscoa judaica, como celebravam os cristãos da Ásia Menor e da Síria, mas no domingo seguinte, acabando assim com a controvérsia pascal do século segundo, por determinação do Concílio de Nicéia.


15 - Para a celebração do Natal, a evolução litúrgica vai escolher outro núcleo do ano. Este outro momento é o solstício de inverno, o "dies natalis solis invictus", ou seja, o "dia de nascimento do sol invicto". Isto também no Hemisfério Norte, pois, no Hemisfério Sul, nós nos encontramos em pleno verão. Neste tempo, os dias começam a crescer, e o sol, parecendo exausto e exangue, depois de uma longa marcha anual, renasce vivo e surpreendente. É neste contexto, do "Sol Invicto", solsticial, que vai aparecer na face da Terra "o verdadeiro Sol Nascente" (Cf. Lc 1,78), isto é, Cristo Jesus Nosso Senhor. Também a antífona da Liturgia das Horas, do dia 24 de dezembro, inspirando-se no Sl 19,5-6, na sua realidade cósmico-histórico-salvífica, vai cantar belamente: "Quando o sol sair, vereis o Rei dos reis que vem do Pai, como o esposo sai da sua câmara nupcial".


QUANDO SE INICIA O ANO LITÚRGICO?


16 - Diferente do ano civil, mas, como foi dito, não contrário a ele, o Ano Litúrgico não tem data fixa de início e de término. Sempre se inicia no primeiro Domingo do Advento, encerrando-se no sábado da 34ª semana do Tempo Comum, antes das vésperas do domingo, após a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta última solenidade do Ano Litúrgico marca e simboliza a realeza absoluta de Cristo no fim dos tempos. Daí, sua celebração no fim do Ano Litúrgico, lembrando, porém, que a principal celebração litúrgica da realeza de Cristo se dá sobretudo no Domingo da Paixão e de Ramos.


17 - Mesmo sem uma data fixa de início, qualquer pessoa pode saber quando vai ter início o Ano Litúrgico, pois ele se inicia sempre no domingo mais próximo de 30 de novembro. Na prática, o domingo que cai entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. A data de 30 de novembro é colocada também como referencial, porque nela a Igreja celebra a festa de Santo André, apóstolo, irmão de São Pedro, e Santo André foi, ao que tudo indica, um dos primeiros discípulos a seguir Cristo (Cf. Jo 1,40).


ANO LITÚRGICO E DINÂMICA DA SALVAÇÃO


18 - Tendo como centro o Mistério Pascal de Cristo, todo o Ano Litúrgico é dinamismo de salvação, onde a redenção operada por Deus, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo, deve ser viva realidade em nossas vidas, pois o Ano Litúrgico nos propicia uma experiência mais viva do amor de Deus, enquanto nos mergulha no mistério de Cristo e de seu amor sem limites.


O DOMINGO, FUNDAMENTO DO ANO LITÚRGICO


19 - O Concílio Vaticano II (SC nº 6), fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, "Dia do Senhor", é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, na páscoa semanal que, devido à tradição apostólica, se celebra a cada oitavo dia.


20 - O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial, quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10).


21 - Como o Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia redentora de Cristo, assim também, igualmente, o domingo derrama para toda a semana a mesma vitalidade do Cristo Ressuscitado. O domingo é, na tradição da Igreja, na prática cristã e na liturgia, o "dia que o Senhor fez para nós" (Cf. Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.


AS DIVISÕES DO ANO LITÚRGICO


22 - Os mistérios sublimes de nossa fé, como vimos, são celebrados no Ano Litúrgico, e este se divide em dois grandes ciclos: o ciclo do Natal, em que se celebra o mistério da Encarnação do Filho de Deus, e o ciclo da Páscoa, em que celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, como também sua ascensão ao céu e a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja, na solenidade de Pentecostes.


23 - O ciclo do Natal se inicia no primeiro domingo do Advento e se encerra na Festa do Batismo do Senhor, tendo seu centro, isto é, sua culminância, na solenidade do Natal. Já o ciclo da Páscoa tem início na Quarta-Feira de Cinzas, início também da Quaresma, tendo o seu centro no Tríduo Pascal, encerrando-se no Domingo de Pentecostes. A solenidade de Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa.


24 - Entremeando os dois ciclos do Ano Litúrgico, encontra-se um longo período, chamado "Tempo Comum". É o tempo verde da vida litúrgica. Após o Natal, exprime a floração das alegrias natalinas, aí aparecendo o início da vida pública de Jesus, com suas primeiras pregações. Após o ciclo da Páscoa, este tempo verde anuncia vivamente a floração das alegrias pascais. Os dois ciclos litúrgicos, com suas duas irradiações vivas do Tempo Comum, são como que as quatro estações do Ano Litúrgico.


25 - Mais adiante estudaremos cada parte do Ano Litúrgico, com sua expressividade própria, suas celebrações, sua dinâmica e seu mistério.


O "SANTORAL" OU "PRÓPRIO DOS SANTOS"


26 - Em todo o Ano Litúrgico, exceto nos chamados tempos privilegiados (segunda parte do Advento, Oitava do Natal, Quaresma, Semana Santa e Oitava da Páscoa), a Igreja celebra a memória dos santos. Se no Natal e na Páscoa, Deus apresenta à Igreja o seu projeto de amor em Cristo Jesus, para a salvação de toda a humanidade, no Santoral a Igreja apresenta a Deus os copiosos frutos da redenção, colhidos na plantação de esperança do próprio Filho de Deus. São os filhos da Igreja, que seguiram fielmente o Cristo Senhor na estrada salvífica do Evangelho. Em outras palavras, o Santoral é a resposta solene da Igreja ao convite de Deus para a santidade.


AS CORES DO ANO LITÚRGICO


27 - Como a liturgia é ação simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital importância, respeitada a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:


• Cor roxa


Usa-se: No Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.


• Cor branca


Usa-se: Na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos santos. Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.


• Cor vermelha


Usa-se: No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo de Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e evangelistas.


• Cor rosa


Pode-se usar: No terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no quarto Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos são classificados, na liturgia, de "domingos da alegria", por causa do tom jubiloso de seus textos, devido aos imperativos latinos que iniciam a antífona de entrada.


• Cor preta


Pode-se usar na celebração de Finados


• Cor verde


Usa-se: Em todo o Tempo Comum, exceto nas festas do Senhor nele celebradas, quando a cor litúrgica é o branco.


Nota explicativa: Se uma festa ou solenidade tomar o lugar da celebração do tempo litúrgico, usa-se então a cor litúrgica da festa ou solenidade. Exemplo: em 8 de dezembro, celebra-se a Solenidade da Imaculada Conceição. Neste caso, a cor litúrgica é então o branco, e não o roxo do Advento, neste caso, canta-se o Glória e faz-se a profissão de fé (Creio). Este mesmo critério é aplicável para a celebração dos dias de semana.


ESTRUTURA CELEBRATIVA E PEDAGÓGICA DO ANO LITÚRGICO


28 - Como se vê pelo gráfico, e como já foi referido neste trabalho, o Ano Litúrgico se divide em dois grandes ciclos: Natal e Páscoa. Entre eles situa-se o Tempo Comum, não os separando, mas os unindo, na unidade pascal e litúrgica.


29 - Em cada ciclo há três momentos, de grande importância para a compreensão mais exata da liturgia. São eles: um, de preparação para a festa principal; outro, de celebração solene, constituindo assim o seu centro; e outro ainda, de prolongamento da festa celebrada.


30 - No centro do Ano Litúrgico encontra-se Cristo, no seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição). É o memorial do Senhor, que celebramos na Eucaristia. O Mistério Pascal é, portanto, o coração do Ano Litúrgico, isto é, o seu centro vital.


31 - O círculo é um símbolo expressivo da eternidade, e o Mistério Pascal de Cristo, no seu centro, constitui o eixo fundamental sobre o qual gira toda a liturgia.


ESTUDO PORMENORIZADO DE CADA CICLO COM SUAS CELEBRAÇÕES


CICLO DO NATAL


32 - Vejamos agora um pouco de cada momento do ciclo natalino, afim de se ter uma noção mais exata.


Preparação: Advento


Celebração: Natal


Prolongamento: Tempo do Natal


• Advento


33 - O Advento é um tempo forte na Igreja, onde nos preparamos para a celebração do Natal. Tem duas características, marcadas por dois momentos: o advento escatológico e o advento natalício. O primeiro vai do primeiro domingo do Advento até o dia 16 de dezembro. Neste primeiro momento, a liturgia nos fala da segunda vinda do Senhor no fim dos tempos, a chamada escatologia cristã. Já o segundo momento vai do dia 17 ao dia 24 de dezembro. É como que a "semana santa" do Natal. Neste período, a liturgia vai nos falar mais diretamente da primeira vinda do Senhor, no Natal. 


34 - No Advento temos quatro domingos, o terceiro chamado "Gaudete", isto é, domingo da alegria.


Podemos dizer que os quatro domingos do Advento simbolizam os quatro grandes períodos em que Deus preparou a humanidade, de maneira progressiva, para a grande obra da redenção em Cristo. Esses quatro períodos são: 1º) O tempo que vai de Adão a Noé - 2º) O tempo de Noé a Abraão - 3º) O tempo de Abraão a Moisés - e 4º) O tempo que vai de Moisés a Cristo. Com Abraão começa, historicamente, a caminhada da salvação (Cf. Gn 12).


35 - Os quatro domingos simbolizam também as quatro estações do ano solar e as quatro semanas do mês lunar. Aqui se pode ver a harmonia entre tempo histórico e tempo cósmico. Também a coroa do Advento, em sua forma circular, com suas quatro velas, quer chamar nossa atenção, já no início do Ano Litúrgico, para o mistério de Deus que nele vamos celebrar. A cor verde dos ramos da coroa (pinheiro, principalmente), fala do mistério cristão, que nunca perde o seu verdor, e simboliza então a esperança e a vida eterna.


36 - Três personagens bíblicos marcam o tempo do Advento. São eles: o profeta Isaías, São João Batista e a Virgem Mãe de Deus. É tempo de expectativa, de moderação e de esperança. Por isso, a cor roxa não é muito apropriada para o Advento, mas, oficialmente, ela é a que se deve usar, como foi esclarecido no número 27 deste trabalho. É um tempo penitencial, mas menos que a Quaresma.


• Natal


37 - O Natal é a celebração principal de todo o ciclo natalino. Constitui portanto o seu centro. Cristo nasce em Belém da Judéia, em noite fria (inverno), mas traz do céu o calor vitalizante da santidade de Deus, em mensagem de paz dirigida sobretudo aos pobres, com quem se identifica mais plenamente, cumulando-os das riquezas do Reino. Sua "noite feliz" sinaliza para a "noite fulgurante" da Sagrada Vigília Pascal do Sábado Santo, onde as trevas são dissipadas, definitivamente, pela luz do Cristo Ressuscitado.


38 - No Natal se dá a união hipostática, ou seja, a natureza divina se une à natureza humana, numa só pessoa, a pessoa do Verbo Encarnado (Cf. Jo 1,14), mistério que transcende a compreensão humana. É pura humildade de Deus e pura gratuidade do amor divino.


• Tempo do Natal


39 - Como o Advento, tem também o Tempo do Natal dois momentos. Um, imediato: é a Oitava do Natal, que prolonga a solenidade natalina por oito dias, encerrando-se no dia primeiro de janeiro. O segundo momento vai de 2 de janeiro até a Festa do Batismo do Senhor, quando então se encerra o ciclo natalino.


40 - Vejamos agora as festas e solenidades do ciclo do Natal, nomeando-as, mas sem referência a aspectos celebrativos.


No Advento (além dos quatro domingos)


• Solenidade da Imaculada Conceição - em 8 de dezembro


• Festa de Nossa Senhora de Guadalupe - em 12 de dezembro (caindo em domingo, é omitida)


No Natal


• Solenidade principal do ciclo natalino, com vigília e três missas


No Tempo do Natal


São duas as solenidades e duas também as festas celebradas no Tempo do Natal, além, é claro, da solenidade principal de 25 de dezembro. São elas:


• Solenidade da Santa Mãe de Deus


Esta solenidade é celebrada em 1º de janeiro, com a qual se encerra, como vimos, a Oitava do Natal.


• Solenidade da Epifania


Epifania significa manifestação. É, pois, a manifestação de Jesus ao mundo, como salvador universal. Os magos simbolizam o conjunto das nações e dos povos. A Epifania marca, assim, a universalidade da redenção de maneira viva e simbólica. No Brasil, celebra-se a Epifania no domingo que cai entre os dias 2 a 8 de janeiro (mesmo se o dia 6 cair em um domingo).


• Festa da Sagrada Família


Esta festa é celebrada no domingo que cai entre os dias 26 e 31 de dezembro. Se não houver domingo neste período, então a Festa da Sagrada família é celebrada no dia 30 de dezembro, em qualquer dia da semana.


• Festa do Batismo do Senhor


Com a Festa do Batismo do Senhor encerra-se o ciclo do Natal. A data de sua celebração depende da Solenidade da Epifania. Se a Epifania for celebrada até o dia 6 de janeiro, então o Batismo do Senhor se celebra no domingo seguinte, transformando-se em solenidade. Se, porém, a Epifania for celebrada no dia 7 ou 8 de janeiro, então a Festa do Batismo do Senhor será celebrada no dia seguinte, isto é, na segunda-feira. A Festa do Batismo do Senhor marca o início da vida pública e missionária de Cristo.


41 - Três celebrações natalinas ainda existem, mas são comemoradas fora do ciclo do Natal: a festa da Apresentação do Senhor, em 2 de fevereiro, no Tempo Comum portanto; a solenidade de São José, esposo da Santíssima Virgem, em 19 de março, e a solenidade da Anunciação do Senhor, em 25 de março, estas duas últimas na Quaresma, sendo que, com referência à Anunciação, esta também pode cair, eventualmente, na Semana Santa. Nesta última hipótese, tal solenidade é transferida para depois da Oitava da Páscoa, uma vez que na Semana Santa não se pode fazer nenhuma comemoração que não seja a da sua própria liturgia.


42 - Dentro ainda da Oitava do Natal, três festas do "Santoral" são celebradas, mas com Vésperas da Oitava. São elas: Santo Estêvão, diácono e protomártir, em 26 de dezembro; São João, Apóstolo e Evangelista, em 27 de dezembro; e Santos Inocentes, em 28 de dezembro.


CICLO DA PÁSCOA


43 - Após pequenas considerações sobre o ciclo do Natal, vejamos agora alguns pontos do ciclo pascal, na riqueza também de sua estrutura celebrativa.


Preparação: Quaresma


Celebração: Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor


Prolongamento: Tempo Pascal


44 - A exemplo do que se fez no Ciclo do Natal, aqui se explicita também um pouco cada momento do Ciclo da Páscoa.


• Quaresma


45 - Chamado, liturgicamente, de tempo de preparação penitencial para a Páscoa, a Quaresma, a exemplo também do Advento, tem dois momentos distintos: o primeiro vai da Quarta-Feira de Cinzas até o Domingo da Paixão e de Ramos, e o segundo, como preparação imediata, vai do Domingo de Ramos até a tarde de Quinta-Feira Santa, quando se encerra então o tempo quaresmal.


46 - O tempo da Quaresma é tempo privilegiado na vida da Igreja. É o chamado tempo forte, de conversão e de mudança de vida. Sua palavra-chave é: "metanóia", ou seja, conversão. Nesse tempo se registram os grandes exercícios quaresmais: a prática da caridade e as obras de misericórdia. O jejum, a esmola e a oração são exercícios bíblicos até hoje recomendáveis, na imitação da espiritualidade judaica. No Brasil, realiza-se a Campanha da Fraternidade, com sua proposta concreta de ajuda aos irmãos, focalizando sempre um tema da vida social.


47 - Seis são os domingos da Quaresma, sendo o sexto já o Domingo de Ramos. Como se viu no Advento, tem também a Quaresma o seu domingo da alegria, o 4º domingo, chamado "Laetare", devido ao imperativo latino que inicia a antífona de entrada.


48 - A palavra "Quaresma" vem da abreviação do latim "quadragésima", isto é, "quarenta", e está ligada a acontecimentos bíblicos, que dizem respeito à história da salvação: jejum de Moisés no Monte Sinai, caminhada de Elias para o Monte Horeb, caminhada do povo de Israel pelo deserto, jejum de Cristo no deserto etc..


• Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor


49 - O Tríduo Pascal é o centro não só da Páscoa, mas também de toda a vida da Igreja. Na liturgia ocupa o primeiro lugar em ordem de grandeza, não havendo, pois, nenhuma outra celebração que se possa colocar em seu nível. É portanto o cume da liturgia e de todo o acontecimento da redenção. Por isso, deveria estar mais presente, como tema, em toda catequese e ser objeto de interiorização nos encontros eclesiais.


50 - Começa o Tríduo Pascal na Quinta-Feira Santa, na missa vespertina da Ceia do Senhor, tem seu centro na Vigília Pascal do Sábado Santo e encerra-se com a missa vespertina do Domingo da Páscoa.


51 - O Tríduo Pascal não é - diga-se - um tríduo que nos prepara para o Domingo da Páscoa, mas um tríduo celebrativo do Mistério Pascal de Cristo, que culmina no domingo, "Dia do Senhor". Trata-se, pois, de uma única celebração, em três momentos distintos.


52 - É tão fundamental o Tríduo Pascal que, sem ele, não existiria a liturgia, e o que teríamos era então uma Igreja sem sacramentos e sem a missionaridade redentora. Por que se diz isto? Porque, sem a ressurreição de Cristo - ensina-nos São Paulo (Cf. 1Cor 15,14) - vazia seria toda a pregação apostólica, como vã, vazia e sem sentido seria também a nossa fé. Estaríamos ainda acorrentados nos "Egitos" do mundo e presos aos grilhões do pecado e da morte.


53 - Aplica-se sobretudo ao Domingo da Páscoa tudo o que se disse sobre o domingo, como fundamento do Ano Litúrgico. E mais: o Domingo da Páscoa deve ser visto, celebrado e vivido como o "domingo dos domingos", dia, pois, sagrado por excelência. Se todos os domingos do ano já têm primazia fundamental sobre todos os outros dias, o Domingo da Páscoa destaca-se ainda mais pela sua notoriedade cristã, dada a sua relação teológica com o Cristo Kyrios (Senhor).


• Tempo Pascal


54 - Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, somente duas celebrações hoje na Igreja têm "oitava", isto é, um prolongamento festivo por oito dias, durante o qual a liturgia se volta para a solenidade principal. Estas duas celebrações são Natal e Páscoa. A Oitava da Páscoa vai, assim, do Domingo da Páscoa ao domingo seguinte, chamado de Domingo da Divina Misericórdia.


55 - Os domingos do Tempo Pascal são chamados de "Domingos da Páscoa", com a identificação de 1º, 2º etc.. São sete tais domingos, e, no sétimo, no Brasil se celebra a Solenidade da Ascensão do Senhor. Como se vê, a festa da Páscoa não se limita ao Domingo da Ressurreição. O prolongamento mais extenso da Páscoa se dá então até a Solenidade de Pentecostes. Segundo Santo Atanásio, o Tempo Pascal deve ser celebrado como um "grande domingo", ou seja, um domingo com duração de 50 dias.


Solenidades do Tempo Pascal


56 - Como já ficou evidenciado acima, além do Tríduo Pascal, que é a celebração principal da Páscoa, duas outras solenidades marcam também o Tempo Pascal. São elas:


• Ascensão do Senhor


57 - No Brasil, é o domingo que celebra a subida do Senhor ao céu, quarenta dias após a ressurreição (Cf. At 1,1-3). A data oficial da solenidade é na quinta-feira precedente, mas, como no Brasil não é feriado, transferiu-se então tal comemoração para o domingo seguinte, ocupando, pois, tal solenidade o lugar do 7º Domingo da Páscoa.


• Pentecostes


58 - Como sabemos, Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa. É a solenidade que celebramos após 50 dias da ressurreição. Marca o início solene da vida da Igreja (Cf. At 2,1-41), não o seu nascimento, pois este se dá, misteriosamente, na Sexta-Feira Santa, do lado do Cristo Crucificado, como sua esposa imaculada.


59 - Pentecostes, como já foi dito, coroa a obra da redenção, pois nela Cristo cumpre a promessa feita aos apóstolos, segundo a qual enviaria o Espírito Santo Consolador, para os confirmar e os fortalecer na missão apostólica. A vinda do Espírito Santo, no episódio bíblico de At 2,1-4, deve ser entendida em dimensão também eclesiológica, ou seja, como ação estendida a toda a Igreja, no desejo do Pai e do Filho. Com Pentecostes encerra-se, pois, o ciclo da Páscoa.


TEMPO COMUM


60 - Após pequenas considerações sobre os dois ciclos do Ano Litúrgico, vamos agora a um pequeno comentário sobre o Tempo Comum. Por "Tempo Comum", devemos entender - repetimos - aquele longo período, que se encontra entre os ciclos do Natal e da Páscoa. Na prática são 33 ou 34 semanas.


61 - Começa esse tempo litúrgico na segunda-feira após a Festa do Batismo do Senhor, ou na terça-feira, quando a Epifania é celebrada no dia 7 ou 8 de janeiro, hipótese em que o Batismo do Senhor é celebrado então na segunda-feira. Na terça-feira de Carnaval, o Tempo Comum se interrompe devido ao tempo de reflexão que é a Quaresma, reiniciando-se na segunda-feira depois do Domingo de Pentecostes e prolongando-se até o sábado que precede o primeiro Domingo do Advento.


62 - No Tempo Comum não se celebra um aspecto de nossa fé, como é o caso do Natal (Encarnação), e Páscoa (Redenção), mas celebra-se todo o mistério de Deus, em sua plenitude. Uma temática pode, porém, nele aparecer, quando nele se celebram algumas solenidades, como "Santíssima Trindade", "Corpus Christi" etc., chamadas na liturgia de "Solenidades do Senhor no Tempo Comum".


63 - Não existe uma liturgia para o 1º Domingo do Tempo Comum, porque, neste, a Igreja celebra, nas hipóteses já referidas, a Festa do Batismo do Senhor. Diz-se então, iniciando esse período, "primeira semana do Tempo Comum", que começa na segunda-feira ou na terça-feira, como já vimos. A partir do segundo domingo é que começa, oficialmente, a enumeração dos domingos do Tempo Comum, como conhecemos.


64 - Dadas como foram as festas e solenidades dos dois ciclos litúrgicos, aqui são dadas também, agora, as festas e solenidades do "Santoral", celebradas, em sua maioria, no Tempo Comum, salvo aquelas já referidas nos ciclos comentados. Vejamos então:


Solenidades do Senhor no Tempo Comum


65 - São quatro as celebrações assim denominadas. São também móveis, isto é, sua data de celebração depende da Páscoa. Ei-las:


• Santíssima Trindade


Celebra-se no domingo seguinte ao de Pentecostes


• Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor (Corpus Christi)


Celebra-se na quinta-feira após a solenidade da Santíssima Trindade


• Sagrado Coração de Jesus


Sua celebração se dá na 2ª sexta-feira após a quinta-feira de Corpus Christi


• Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (Cristo Rei)


É celebrada no último domingo do Tempo Comum antes do início do Advento, ocupando o lugar do 34º domingo.


66 - Também no Tempo Comum são celebradas algumas festas do Senhor. Estas, quando caem no domingo, ocupam o seu lugar. São elas:


• Apresentação do Senhor


Celebra-se no dia 2 de fevereiro


• Transfiguração do Senhor


Sua celebração é em 6 de agosto


• Exaltação da Santa Cruz


Celebra-se em 14 de setembro


67 - Além das "festas do Senhor" acima referidas, outras festas e solenidades são celebradas no Tempo Comum, pertencentes então ao "Santoral". Ei-las:


Solenidades


• Natividade de São João Batista - em 24 de junho


• São Pedro e São Paulo - em 29 de junho ou no domingo seguinte, exceto se esse dia cair em um domingo


• Assunção de Nossa Senhora - no 3º domingo de agosto ou no dia 15, nos casos de padroeira


• Nossa Senhora Aparecida - em 12 de outubro


• Todos os Santos - no 1º domingo de novembro. Se, porém, o dia de "Finados" for domingo, a solenidade de "Todos os Santos" é celebrada então no dia primeiro, sábado. Isto porque "Finados" tem precedência litúrgica e é celebração fixa de 2 de novembro.


Nota: As solenidades do "Santoral", quando caem no Domingo Comum, ocupam também o seu lugar. É o caso aqui da "Natividade de São João Batista" e "Nossa Senhora da Conceição Aparecida".


Festas do "Santoral" celebradas no Tempo Comum


Janeiro:

• Conversão de São Paulo, Apóstolo - em 25 de janeiro


Fevereiro:

• Cátedra de São Pedro - em 22 de fevereiro (festa pertencente ao tempo da Quaresma)


Abril: (21/04) - Tiradentes

• São Marcos, Evangelista - em 25 de abril (festa pertencente ao Tempo Pascal)


Maio: (01/05) - Dia do Trabalho

• São Filipe e São Tiago - em 3 de maio


• São Matias, Apóstolo - em 14 de maio


• Visitação de Nossa Senhora - em 31 de maio


Julho:

• São Tomé, Apóstolo - em 3 de julho


• São Tiago Maior, Apóstolo - em 25 de julho


Agosto - vocações:

• São Lourenço, Diácono e mártir - em 10 de agosto


• Santa Rosa de Lima - em 23 de agosto


• São Bartolomeu, Apóstolo - em 24 de agosto


Setembro - Bíblia: (07/09) - Independência do Brasil

• Natividade de Nossa Senhora - em 8 de setembro


• São Mateus, apóstolo e evangelista - em 21 de setembro


• São Miguel, São Gabriel e São Rafael, arcanjos - em 29 de setembro


Outubro - missões:

• São Lucas, evangelista - em 18 de outubro


• São Simão e São Judas Tadeu - em 28 de outubro (apóstolos)


Novembro: (15/11) - Proclamação da República

• Dedicação da Basílica de Latrão - em 9 de novembro


• Santo André, Apóstolo - em 30 de novembro (festa pertencente ao tempo do Advento)


68 - Neste trabalho não houve referência às memórias (obrigatórias ou facultativas), que a Igreja celebra também durante todo o ano litúrgico. As memórias são omitidas quando caem no domingo e nos tempos privilegiados, podendo contudo ser celebradas como facultativas, nas normas litúrgicas. Quanto às festas dos santos, são também omitidas quando caem nos domingos, mas são celebradas nos dias de semana dos tempos privilegiados.


69 - Chamam-se "Próprio do Tempo" as celebrações dos ciclos festivos (Natal e Páscoa), como também as do Tempo Comum, ligadas ao mistério da redenção. As celebrações dos santos são chamadas "Próprio dos Santos", ou "Santoral".


70 - No Brasil, Nossa Senhora Aparecida tem sua celebração (12 de outubro) como solenidade. Tem precedência sobre o domingo do Tempo Comum, por ser padroeira do país.


GRAUS DAS CELEBRAÇÕES E PRECEDÊNCIA DOS DIAS LITÚRGICOS


70 - Um dado importante vamos ver agora: é que o aspecto hierárquico da Igreja estende-se também à liturgia. Assim, entende-se que, na liturgia, não só os ritos têm grau de importância diferente, como também as próprias celebrações divergem quanto à sua importância litúrgica.


71 - Podemos afirmar então que existem graus e precedência nas celebrações, e se dizemos genericamente "festas", três na verdade são os graus da celebração: "solenidade", "festa" e "memória", podendo esta última ser ainda obrigatória ou facultativa. Neste subsídio, a palavra "festa" sempre é usada no conceito aqui ora exposto, a fim de evitar mal-entendidos. Vejamos então:


• Solenidade


72 - É o grau máximo da celebração litúrgica, isto é, aquele que admite, como o próprio nome sugere, todos os aspectos solenes e próprios da liturgia. Na "solenidade", então, três são as leituras bíblicas, canta-se o "Glória" e faz-se a profissão de fé. Para a maioria das solenidades existe também prefácio próprio. Embora no mesmo grau, as "solenidades" distinguem-se ainda, entre si, quanto à precedência. Somente o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e ressurreição do Senhor está na liturgia em posição única. As demais solenidades portanto se acham na tabela oficial distinguindo-se apenas quanto ao lugar que ocupam no mesmo nível. Assim, depois do Tríduo Pascal, temos: Natal, Epifania, Ascensão e Pentecostes, o que equivale a dizer que estas quatro solenidades são as mais importantes depois do Tríduo Pascal, mas Natal vem em primeiro lugar, na ordem descrita.

Nossa Senhora Aparecida no Brasil possui a celebração como solenidade (12 de outubro), ocupa o lugar do domingo do Tempo Comum por ser padroeira do país.


• Festa


73 - "Festa" é a celebração um pouco inferior à "solenidade". Identifica-se, inicialmente, com as do dia comum, mas nela canta-se o "Glória" e pode ter prefácio próprio, dependendo de sua importância. Com referência a "festa" e "solenidade", na Liturgia das Horas (Ofício Divino), canta-se ainda o "Te Deum", fora, porém, da Quaresma. Como já se falou , as "festas" do Santoral são omitidas quando caem em domingo.


• Memória


74 - "Memória" é, sempre, celebração de santos, um pouco ainda inferior ao grau de "festa". Na celebração da "memória", não se canta o "Glória". A "memória" é obrigatória quando o santo goza de veneração universal. Isto quer dizer que em toda a Igreja se celebra a sua memória. É, porém, facultativa quando se dá o contrário, ou seja, quando somente em alguns países ou regiões ele é cultuado.


75 - As "memórias" não são celebradas nos chamados tempos privilegiados, a não ser como facultativas, e dentro das normas litúrgicas para a missa e Liturgia das Horas, conforme já se falou neste trabalho. Quando caem em domingo, são também omitidas, repetindo-se aqui o que já foi explanado.


76 - A "memória" pode tornar-se "festa", ou mesmo "solenidade", quando celebração própria, ou seja, quando o santo festejado for padroeiro principal de um lugar ou cidade, titular de uma catedral, como também quando for titular, fundador ou padroeiro principal de uma Ordem ou Congregação. Também a "festa" pode tornar-se "solenidade" nas circunstâncias litúrgicas aqui descritas, estendendo-se esse entendimento às celebrações de aniversário de dedicação ou consagração de igrejas.

Nova linguagem popular

antes era / agora é
creme rinse / condicionador
obrigado / valeu
é complicado / é foda
collant / body
rouge / blush
ancião e coroa / véi
discoteca / balada
japona / jaqueta
nos bastidores / making of
cafona / brega
programa de entrevistas / talk show
reclame / propaganda
calça cocota / calça cintura baixa
flertar, paquerar / dar mole
oi, olá, como vai? / e aê?
cópia, imitação / genérico
curtir, zoar / causar
mamãe, posso ir? / véia, fui!
legal, bacana / manero, irado
mulher de vida fácil / garota de programa
legal o negócio / xapado o bagulho
pasta de dente / creme dental
cansaço / estresse
desculpe / foi mal
oi, tudo bem? / e aê, belê?
ficou chateada / ficou bolada
médico de senhoras / gineco
superlegal / irado
primário e ginásio / ensino fundamental
colégio / ensino médio
infantil / maternal, jardim
vestibular / Enem, Sisu, ProUni, Fies
preste atenção / se liga!
por favor / quebra essa
recreio / intervalo
cantina / refeitório, lanchonete
radinho de pilhas / iPod
manequim / modelo e atriz
retrato / foto
jardineira / macacão
mentira / caô
saquei / tô ligado
rádio patrulha / viatura
atlético / sarado
peituda / siliconada
professor de ginástica / personal trainer
quadro negro / board
babosa / aloe vera
lepra / hanseníase
ave maria / afffff!
caramba / caraca
namoro / pegação
laquê / spray
de montão / pracarai!
derrame / AVC
chapa dos pulmões / raio X, radiografia
sua bênção, papai! / qualé, coroa?
você tem certeza? / é vero?
não acredito / fala sério!
banha / gordura localizada
alisamento / chapinha
boteco no fim do expediente / happy hour
costureira / estilista
entendeu? / copiou?
gafe / mico
fofoca, ti-ti-ti / babado
hahaha / uhauhauhauha
fotocópia / xérox
brilho labial / gloss
bola ao cesto / basquete
folhinha / calendário
empregada doméstica / secretária
faxineira / diarista
vou verificar, verificarei / vou estar verificando
curso de madureza / supletivo, EJA
vidro fumê / insul film
posso te ligar? / posso te add?
tingir uma roupa / customizar
dar no pé, ir embora / vazar, voltar pro mar, oferenda
embrulho / pacote
Lycra / Stretch
tristeza / deprê
beque / zagueiro
negro / afrodescendente
cego / deficiente visual
surdo / deficiente auditivo
excepcional / altas habilidades
cadeirante / deficiente físico
retardado, doente mental / transtorno mental
professora / tia
senhor / tiozinho
senhorita / novinha
bunduda / popozuda
amor / benhê!
olha o barulho / ó o auê aí ô!

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Dicas para o texto escrito

 As palavras, sobretudo as faladas, são pra lá de levianas. Traem. A gente pensa que diz uma coisa, o ouvinte entende outra, e a coisa propriamente dita desconfia que não foi dita. Confiar nelas é acreditar em Papai Noel. A saída? Escreva os recados. Mas seja safo. Tenha em mente que os vocábulos escritos não são 100% fiéis. Cabe a nós ajudá-los a manter-se na linha.

Como? Lembre-se de que você escreve para as pessoas. São seres de carne, osso, sangue e nervos. Pegam ônibus, levam os filhos pra escola, brigam com o parceiro, sofrem pressão do chefe, recebem salário mais curto que o mês. Etc. Etc. Etc. Seu texto deve falar com eles.


Dicas


1.Seja natural: converse no papel. Imagine que o leitor esteja à sua frente, comendo um sanduíche e tomando um suco.


2. Mantenha a objetividade: sem encher linguiça, vá direto ao assunto. Dê o recado, sem enrolation, embromation e enganation.


3. Respeite a concisão: diga o que deve ser dito com o número de palavras suficiente. Nem mais. Nem menos.


4. Use frases curtas: uma frase longa, ensinou Vinicius, não é nada mais que duas curtas. Na briga entre ponto, ponto e vírgula ou vírgula, dê a vez ao ponto. O leitor agradece. 


5.Faça perguntas diretas em vez de indiretas: em vez de dizer “gostaria de saber se você pode ir à reunião das sete”, indague: Você pode ir à reunião das sete?


6. Prefira palavras curtas e simples, fuja das literárias e científicas:

Evite - matrimônio, obstáculo transversal, precipitação pluviométrica, chefe do Executivo, otimizar, fidelizar, flexibilizar, comercializar, ratificar, certame, holerite, pleito, data natalícia, corte.

Prefira - casamento, lombada, chuva, presidente, melhorar, modificar, confirmar, concurso, contracheque, eleição, aniversário, tribunal.

Deixe as eruditas para quem adora empolação.


7. Sobretudo, guarde isto: as pessoas não ouvem o que é dito. Ouvem o que querem. Entram, no caso, fatores pessoais, como atenção, interesse, domínio do conteúdo.


8. Evite os usos 'da moda'. Deletar só em textos de informática. Nos outros casos, prefira eliminar, apagar ou excluir. Detonar só se forem explosivos. Nos outros casos, prefira despertar, gerar ou provocar. Elenco só se forem artistas ou atores. Nos outros casos, prefira enumeração, catálogo, relação ou lista. Contabilizar só em textos de contabilidade. Nos outros casos, prefira totalizar ou somar.

5 dicas para uma voz sedutora

 Uma voz clara e harmoniosa não cai do céu. É conquista. Medidas simples fazem milagres. A mais apreciada: água. Hidratação, hidratação e hidratação é a regra. Outra: bocejos. Eles distendem as pregas vocais. Outras mais: o M pronunciado com ressonância nas bochechas (poupe a garganta). Bem-estar e bons pensamentos. Exercícios diários ajudam – e muito. Sem necessidade de academia ou tempo extra, podem ser feitos no carro, na caminhada ou em casa:


1. Falar ou cantar com o lápis na boca dá clareza à voz.


2. Praticar o trava-línguas melhora a dicção. Eis exemplos:


Bagre branco / branco bagre. / Branco bagre / bagre branco.


Um tigre. / Dois tigres. / Três tigres./


A aranha arranha o jarro. / O jarro arranha a aranha.


O céu está enladrilhado. / Oh! Quem o enladrilhou? / O mestre que o desenladrilhar /


Bom desenladrilhador será.


O peito do pé do Pedro é preto. / É preto o peito do pé do Pedro.


Se o papa papasse papa / Se o papa papasse pão / O papa não seria papa / O papa seria papão.


O otorrinolaringologista / Otorrinolaringologando / A otorrinolaringologia.


3. Cantar um verso e falar outro tira a monotonia da voz:


Se esta rua, se esta rua fosse minha (cantar),


Eu mandava, eu mandava ladrilhar (falar)


Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante (cantar)


Para o meu, para o meu amor passar. (falar)


4. Vibrar a língua no céu da boca e fazer brrrrrrrrrrrrrrrrrrrr com os lábios (como os bebês) descansa a voz.


5. Relaxar a musculatura facial:


5.1. Falar exageradamente: a – e – i – o u


5.2. Encher as bochechas e chupá-las


5.3. Estalar os lábios


5.4. Fazer “o trote do cavalinho” com a língua


5.5. Mexer o maxilar inferior para os dois lados