sábado, 20 de maio de 2023

Mudanças na Reforma Ortográfica de 1971

Mudanças

Esta reforma ortográfica, diferentemente de outros regulamentos ortográficos, tais como o Formulário Ortográfico de 1943 e o Acordo Ortográfico de 1990, simplificou apenas regras de acentuação. Das onze regras então vigentes, duas foram abolidas:


Oxítonas terminadas em a(s); e(s) e o(); além de em e ens, com duas ou mais sílabas.

Monossílabos tônicos terminados em a(s), e(s) e o(s).

Paroxítonas terminadas em r; x; n; l; t, ts; ditongos; i(s); u(s); um; uns; ão(s); ps; ou ã(s).

Todas as proparoxítonas sem exceção

I e u, quando são a segunda vogal do hiato sós ou seguido de S na sílaba, exceto antes de NH ou consoante que não seja S.

E e o tônicos fechados.

Levam acento grave onde antes havia agudo, mas a palavra recebeu sufixo iniciado em z ou o sufixo mente.

Levam trema o u átono dos grupos gue; gui; que; e qui.

Primeira vogal dos ditongos éu(s); ói(s); e éi(s) quando abertos; ôo(s) quando fechado; e êem e êm quando indicam a terceira pessoa do plural.

Quando deveria ser hiato, mas é ditongo.

Usa-se o acento grave na crase.

Queda dos acentos diferenciais

Em Portugal, entre 1911 e 1945, assim como no Brasil entre 1943 e 1971, houve a existência de um recurso chamado acento diferencial. Dada a existência de muitas palavras homógrafas, mas não homófonas, julgou-se necessário criar diferenciações entre elas:

pilôto (substantivo) / piloto (ó) (do verbo "pilotar");

côr (pigmento) / Cor (ó) (coração);

êle (pronome pessoal) / ele (é) (nome dado à letra L);

êsse (pronome demonstrativo) / esse (é) (nome da letra S)

govêrno (substantivo) / governo (é) (verbo).

Exceções mantidas

Alguns casos do acento diferencial permaneceram:


por (preposição) / pôr (verbo)

pode (verbo poder, presente) / pôde (verbo poder, pretérito perfeito)

pera (forma arcaica de pedra) / pêra

polo (palavra átona, forma antiga de pelo) / pólo

pelo, pela(s) (contração) / pêlo (substantivo) / pélo, péla(s) (verbo pelar, presente)

coa(s) (contração de com + a) / côa(s) (verbo coar)

tem, vem / têm, vêm

para (preposição) / pára (verbo parar)

que (pronome, conjunção, preposição, advérbio ou partícula expletiva) / quê (interjeição ou substantivo)

porque (conjunção explicativa, causal ou final) / porquê (substantivo)

as (artigo definido feminino no plural) / ás (carta de baralho, especialista)

Facultativamente:

forma / fôrma

demos (pretérito perfeito) / dêmos (presente do subjuntivo)

amamos (presente do indicativo) / amámos (pretérito perfeito) - vale para todos os verbos regulares da primeira conjugação

em palavras proparoxítonas - Antônio (Brasil) / António (Portugal)

Queda do acento grave das sílabas subtônicas

Até essa época, todas as palavras que tinham acento ou sinal gráfico, se fossem transformadas mediante um sufixo (-mente, -zinho, -zal, etc.), mantinham-no:

econômica > econômicamente (regra abolida em 1971 junto com a do acento grave)

conseqüente > conseqüentemente (regra abolida com a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990)

cristã > cristãmente (regra mantida).

Essa regra não se aplicava a palavras com til, porque não é acento, mas sim sinal de nasalização: irmão - irmãmente.

Entretanto, se a palavra original tivesse acento agudo ( ´ ), com o acréscimo do sufixo, passava a acento grave ( ` ):

inegável > inegàvelmente

indelével > indelèvelmente

sensível > sensìvelmente

Tal mudança gráfica, também presente no Acordo Ortográfico de 1945 em Portugal, veio a ser abolida dois anos depois, em 1973.

Casos de manutenção do acento grave

à (contração da preposição a com o artigo definido ou pronome demonstrativo a).

às (contração da preposição a com o artigo feminino ou pronome demonstrativo as).

àquele(s) (contração da preposição a com o pronome demonstrativo aquele(s)).

àquela(s) (contração da preposição a com o pronome demonstrativo aquela(s)).

àquilo (contração da preposição a com o pronome demonstrativo aquilo)

àqueloutro(s) (contração da preposição a com o pronome demonstrativo aquele contraído com o pronome indefinido outro(s))

àqueloutra(s) (contração da preposição a com o pronome demonstrativo aquela contraído com o pronome indefinido outra(s))


Antes de 1971, foi eliminado o S do grupo SC: cena, cenografia, cisão, ciência, cientista. O S desapareceu em derivados recentes, como contracenar, encenação e anticientífico, mas permaneceu em derivados antigos, como consciência, imprescindível e rescisão.

E também a dupla grafia de nomes próprios no Brasil: Vitor, Vítor ou Victor, Manoel ou Manuel, Moraes ou Morais, Felipe ou Filipe, Lourdes ou Lurdes, Carmen ou Carmem, Elizabete ou Elisabete, Andreia ou Andrea, Antonio ou Antônio, Patricia ou Patrícia, Claudia ou Cláudia.

Nenhum comentário: