“Aclamem a Deus, nossa força. Acompanhem, toquem os pandeiros, a harpa melodiosa e a cítara” (Sl 81,2-4). “Cantem para ele ao som de instrumentos...” (cf 1Cr 15-16).
1. Introdução:
Todos nós temos consciência de como a música é importante em nossa vida. Como é divina, como faz bem! Se ela é tão importante em tudo, por que não seria também na liturgia? O povo diz com sabedoria que “quem canta reza duas vezes”. E é verdade. Assim, podemos afirmar com certeza que seria quase impossível uma liturgia sem a música e sem o canto.
O Documento da CNBB sobre a música na liturgia (Estudos, n. 79) lembra que “o canto cria comunidade, liga as pessoas entre si, e mais eficazmente as põe em sintonia com o Mistério de Deus” (n. 6).
Sem música a liturgia é um corpo sem alma. O canto anima (dá alma), cria o clima, ajuda a rezar, interioriza, evangeliza. O povo demonstra sua fé e alegria, seu amor e gratidão a Deus por meio do canto. Os hebreus e os cristãos, indígenas e negros, quase todos os povos e culturas sempre usaram a música e a dança como elementos essenciais em seus ritos. Através do canto, revelam a alegria da festa, a unidade de coração, o compromisso com a vida. O canto expressa emoção e luta, penitência e louvor.
A finalidade do canto não é apenas a de tornar a celebração mais leve, gostosa, movimentada. Mas ajudar a celebrar bem. A Igreja nos ensina que não podemos nos contentar em cantar na liturgia, mas devemos cantar a liturgia (Doc. 79, n. 27).
Para isso, precisamos saber distinguir bem o que é música litúrgica e o que não é:
Canto sacro: expressa um tema sagrado ou religioso, como Natal, Ave Maria;
Canto evangelizador: tem a finalidade de evangelizar e catequizar – é mais livre;
Canto litúrgico: está em função da celebração litúrgica e, por isso, ESTÁ SUJEITO ÀS NORMAS DA LITURGIA. Nem todo canto religioso é litúrgico.
Toda comunidade precisa ter uma boa equipe de liturgia, para preparar bem as celebrações e ajudar o povo a celebrar melhor. Faz parte dessa equipe o grupo encarregado do canto na liturgia, não só nas missas, mas em todas as celebrações. A equipe de animação do canto ficará atenta às músicas, para que estejam de acordo com o mistério celebrado e com a comunidade celebrante, ficando responsável para que toda a assembleia tenha acesso às letras, aprenda as músicas e participe durante a celebração.
O canto é movido pelo sentimento, mas não pode ficar no sentimentalismo. A poesia é importante, mas não deve ser alienante. Assim, o canto litúrgico deve ter inspiração bíblica, levar à oração, evangelizar, ajudar na ligação entre fé e vida.
Na verdade, o tipo de músicas que escolhemos para a celebração retrata a eclesiologia que temos:
a) Se temos uma Igreja mais TRIUNFALISTA, cantaremos: “Qual resplende em manhãs purpurinas... Tu, que és rei, e que os povos dominas, firma aqui teu trono, ó Jesus...”;
b) Se é uma Igreja ALIENADA E INTIMISTA, diremos: “Eu navegarei no oceano do Espírito...”; “Pai, meu Pai... cuida de mim”...;
c) Uma Igreja PROFÉTICA E ENCARNADA: “Javé, o Deus dos pobres, do povo sofredor...”, “Comungar é tornar-se um perigo...”;
d) Igreja que une POESIA E PROFECIA: “Tua Igreja é um corpo... e há no corpo, certamente, coração...”; “Quando o dia da paz renascer...”.
Como na assembleia há pessoas de todos os tipos e idades, o ideal é conseguir o equilíbrio entre a emoção, a poesia, a profecia, a reflexão, a oração. Como a eucaristia é comunitária e familiar, evitamos também algo voltado só para crianças ou para jovens. O ideal é que todos se sintam contemplados.
O documento 79 alerta para o perigo de que os cantos sejam escolhidos de qualquer jeito e fiquem distantes do mistério celebrado e dos textos litúrgicos, correspondendo apenas ao gosto de quem escolhe, sobretudo quando se trata de alguns movimentos e grupos (n. 43). Alguns vão muito pelo caminho do individualismo intimista e sentimentalista (n. 44); outros partem para o militantismo, realçando a luta sem a mística (n. 45). Uns ficam só no tradicional, outros só querem o novo e o que lhes agrada, esquecendo-se que a assembleia é muito diversificada e todos têm o direito de participar (n. 175).
Entre os cuidados a serem tomados está o de evitar todo e qualquer improviso. Os cantos devem ser preparados com antecedência, para evitar conversas e cochichos durante a celebração: um péssimo ruído. Outro cuidado é o de não ficar escravos dos chamados “folhetos litúrgicos”, que acomodam as equipes, matam a liturgia e podem tornar a celebração muito distante da realidade local.
2. Equipe de canto1
A equipe de canto tem a função de ajudar o povo a cantar, envolvendo toda a assembleia. NÃO SE TRATA DE CORAL PARA SE APRESENTAR, mas um grupo que SUSTENTA O CANTO E LEVA O POVO A PARTICIPAR. Além disso, é essencial que o próprio grupo PARTICIPE DA CELEBRAÇÃO, rezando, ouvindo com atenção as leituras, e nunca cochichando, mexendo com instrumentos, andando, como se não estivesse celebrando. O canto litúrgico não é uma apresentação, mas uma oração.
Ao grupo de cantores cabe executar as partes que lhe são próprias e promover a ativa participação dos fiéis no canto. “O coral desempenha verdadeiro ministério ou função litúrgica... e por isso é importante para uma celebração viva...” Entre suas FUNÇÕES, podemos citar: enriquecer o canto do povo... criar espaços de descanso que fomentem a contemplação... dar um colorido próprio às celebrações... animar o canto da assembleia, guiando e sustentando as vozes do povo (Doc. 79, nn. 254-255).
“Cada um dos membros do coral deve ser incentivado à participação plena na celebração, dos ritos iniciais aos ritos finais, como ouvintes atentos da Palavra... participantes fervorosos do Mistério da Fé, evitando comportamentos que deixem a desejar ou desedifiquem a assembleia e desmereçam o próprio ministério” (Doc. 79, n. 260 e IGMR, n. 274).
Como é função do coral ajudar o povo a participar, é um grande desrespeito à assembleia e desserviço à liturgia entoar cantos que a assembleia desconheça ou dos quais não tenha a letra para acompanhar. Além disso, deve estar bem claro que O CANTO ESTÁ A SERVIÇO DA CELEBRAÇÃO, E NÃO A CELEBRAÇÃO A SERVIÇO DO CANTO. O CORAL ESTÁ A SERVIÇO DA LITURGIA, E NÃO A LITURGIA A SERVIÇO DO CORAL.
Nas igrejas onde há muitas missas no domingo, não faz sentido cantar em cada uma músicas diferentes, de acordo com o gosto do coral. Deve haver mais sintonia, unidade, coerência.
Uma coisa muito importante é a sintonia entre a equipe de animação do canto e o presidente da celebração, bem como com outros ministros. O presidente deve saber tudo o que vai ser cantado para evitar desencontros. Os leitores devem saber, por exemplo, se o salmo será cantado ou não, ou se apenas o refrão será cantado.
Quanto ao LOCAL onde ficar, há um documento da Santa Sé que diz que “o grupo dos cantores, segundo a disposição de cada igreja, deve ser colocado de tal forma que se manifeste claramente sua natureza, isto é, que faz parte da assembleia dos fiéis, onde desempenha um papel particular; que a execução de sua função se torne mais fácil; e possa cada um de seus membros facilmente obter uma participação plena na Missa, ou seja, participação sacramental”2.
A Instrução Geral dá a seguinte orientação: “O órgão e outros instrumentos musicais sejam colocados em tal lugar que possam sustentar o canto do grupo de cantores e do povo e possam ser facilmente ouvidos, quando tocados sozinhos” (n. 313).
O documento da CNBB diz que “para poder exercer sua função ministerial junto à assembleia, o coral se poste de tal forma, que fique próximo dos fiéis na nave, à frente, entre o presbitério e a assembleia, sem impedir a visão do povo, e não longe dos instrumentos de acompanhamento” (n. 258) . Não, portanto, no coro.
O que se diz do grupo de cantores vale também para os outros músicos e para o organista.
3. Animador(a) do canto
Convém que haja um(a) animador(a) para DIRIGIR E SUSTENTAR o canto do povo. Alguém que fique em um lugar visível, e seja como o “maestro” para conduzir a assembleia. Mesmo não havendo um grupo de cantores, compete a essa pessoa dirigir os diversos cantos, com a devida participação do povo. Para isso, é necessário que ensaie antes e ensine à assembleia os novos cantos.
Não é função do(a) animador(a) fazer “show”. Animar não significa ficar gritando: “todo mundo”, “mais forte”, “só vocês”, “com palmas”... Conseguimos tudo isso só com gestos ou conduzindo com nosso modo de cantar. Nem precisa cantar o tempo todo no microfone. É preciso deixar a assembleia cantar para que sinta a necessidade e importância da sua participação. Pode também sugerir formas variadas de participação: todos juntos, revezamento coral-assembleia, solo-assembleia, homens-mulheres. Animar é dar alma, dar vida, ajudar a rezar.
Deve chegar antes para ensaiar com a assembleia. Para o ENSAIO, algumas orientações são importantes:
a) Nunca dizer que o canto é difícil ou feio; b) dar uma breve explicação do canto, chamando a atenção para alguma mensagem que ele transmite ou sua ligação com a bíblia e com a vida; c) orientar a assembleia para ouvir primeiro umas três vezes e, só depois, começar a cantar; d) evitar dar muito volume à voz; elogiar a participação da assembleia para motivá-la; e) procurar manter uma expressão facial alegre; f) saber usar bem a respiração. g) Cantar não apenas com a boca, mas com todo o ser.
4. Instrumentistas
Os instrumentos são de suma importância para garantir a BELEZA E O RITMO dos cantos.
De modo geral, todos os instrumentos são permitidos, desde que adaptados à cultura da assembleia celebrante, e que possam ajudar na execução dos cantos. Em alguns momentos, podem ser executados sozinhos, como, por exemplo: antes da celebração, para criar clima de recolhimento; durante a procissão das oferendas ou da comunhão, entre uma estrofe e outra do canto. Contudo, não se deve tocar durante as leituras e a oração eucarística (doc. 79, n. 264).
Um exemplo interessante é o uso do atabaque para o clima de silêncio e recolhimento. Porém, os instrumentos devem se adaptar ao tipo de música: suave, animada, ritmada, livre... Nos cantos mais ritmados e festivos, usam-se mais instrumentos. Nos cantos suaves, como ato penitencial e salmo de resposta, pode ser só o órgão ou violão dedilhado.
É fundamental que o instrumento JAMAIS ABAFE a voz. É importante também estar atentos à proporcionalidade: não fica bem um simples violão para animar uma catedral, e uma banda enorme para uma pequena capela. O mesmo serve para o volume. Atenção também para a percussão, que não deve anular a harmonia do grupo. Quem executa o instrumento deve também ser movido por uma atitude espiritual, possuir mística. Estar ali para servir, e não para se exibir; para rezar e celebrar, não para se apresentar.
5. Salmista
Uma função importantíssima é da pessoa encarregada de proclamar o salmo ou outro cântico bíblico colocado entre as leituras.
Como os salmos são hinos, é bom que seja cantado, sobretudo nas celebrações dominicais. A melodia ajuda a rezar. Uma boa voz tornará a oração mais bela.
O(a) salmista deve ficar no ambão, a fim de que seja visto(a) pela assembleia. Canta o refrão sozinho(a) a primeira vez e, depois, junto com a assembleia. Após cada estrofe, faz sinal para que a assembleia entoe o refrão, sem repetir. Deve cantar o salmo de fato rezando e ajudando o povo a rezar. Se não for possível cantar todo o salmo, cante-se pelo menos o refrão.
6. O corpo e a dança
Também a dança faz parte da celebração. Os bispos do Brasil afirmam que "nossa liturgia deve abrir espaço para as expressões do nosso povo”.
“A dança passa a ser uma questão de coerência e fidelidade a nossas raízes indígenas, ibéricas e africanas, que deram origem a um povo dançante, que tem direito a uma expressão litúrgica, na qual a dança seja um ponto alto” (CNBB, doc. 79, n. 208).
Naturalmente, o uso da dança está ligado ao equilíbrio, à criatividade, à cultura do povo que celebra. Além da arte, deve transparecer a mística de quem a executa e o seu sentido litúrgico, ligado à celebração do mistério pascal. O local deve contar com um espaço que favoreça os movimentos e a visão da assembleia.
O que foi dito para a música vale para a dança: não se trata de dançar na liturgia, mas de dançar a liturgia, acompanhando a procissão (como da bíblia e das oferendas), o salmo, o canto do santo etc.
7. Graus de importância dos cantos litúrgicos
Os documentos da Igreja classificam em três graus de importância os cantos na celebração:
a) Primeiro grau (os mais importantes):
Saudação à Santíssima Trindade, respostas da Oração Eucarística, oração presidencial, aclamação ao Evangelho, diálogo inicial, prefácio e Santo, doxologia final.
b) Segundo grau:
Ato penitencial, Glória, Cordeiro de Deus, profissão de fé, respostas das preces.
c) Terceiro grau (de menor importância):
Cantos processionais (como entrada, comunhão) e leituras. É bom lembrar que os cantos que apenas acompanham um rito (entrada, preparação das oferendas, comunhão) não devem se prolongar após o rito. Terminada a entrada, a preparação das oferendas, a comunhão, cessam os cantos. Podem também ser omitidos ou substituídos por música instrumental
O mais importante é a procissão, o canto é mero acessório.
8. Algumas dicas:
a) Os cantos devem acompanhar o ritmo da celebração, que oscila entre altos e baixos, como a própria vida. Devem estar em sintonia com os textos bíblicos de cada celebração, especialmente com o Evangelho. Estejam de acordo com o tipo de gesto ritual (caminhada, aclamação, perdão);
b) Antes da celebração, é bom cantar um MANTRA, para criar o clima. Mantra é um pequeno refrão, de melodia fácil e orante, que se canta repetidamente, dispensando os comentários iniciais. Ele facilita a interiorização, gera silêncio interior e exterior, acalma, nos põe em sintonia com Deus. Deve ser cantado sempre de maneira bem suave;
c) O canto de abertura deve formar a assembleia e apresentar o sentido da celebração. É comum o(a) animador(a) dizer: “Vamos cantar para receber o celebrante”. Há um erro: o canto não é para receber ninguém, mas formar a comunidade;
d) O sinal da cruz pode ser adaptado, mas nunca substituído por outro canto com letra diferente e nem repetir a expressão “em nome”. O ato penitencial deve realçar mais a misericórdia de Deus do que o nosso pecado (“Senhor, que sois misericórdia e perdão, tende piedade...”). Em alguns domingos, pode ser substituído pela aspersão em recordação do batismo;
e) O glória, por ser hino, é melhor que seja cantado, embora seja possível recitá-lo. Não se trata de um hino trinitário, mas cristológico. Deve-se priorizar os hinos com a letra oficial ou com versões aprovadas pela CNBB. Mesmo que se mudem as palavras, não deve fugir muito do original.
f) De vez em quando pode-se também fazer a entrada solene da Bíblia, com canto, dança ou coreografia. Pode-se também cantar um refrão convidando a assembleia a acolher bem a Palavra que será proclamada.
Normalmente se usa nos domingos de setembro ou quando se pretende destacar a Palavra de Deus.
g) O salmo não deve ser substituído por um canto de meditação. Trata-se de uma continuação, em forma de resposta, da primeira leitura. Sendo assim, ou se usa o próprio salmo, ou um canto que seja uma extensão, em forma de prece, da leitura proclamada.
h) O canto de aclamação ao Evangelho deve ser curto, alegre, vibrante. Sempre se canta o “Aleluia”, exceto na Quaresma. É bom que expresse a importância da Palavra para a vida, ou que esteja ligado ao Evangelho que será proclamado. Após a proclamação, fica bem repetir o refrão do canto.
i) O canto para a preparação das oferendas não precisa obrigatoriamente de falar sobre pão e vinho. Pode falar do tema da liturgia ou do oferecimento da própria vida a Cristo. É um canto mais livre. Evitar chamar esse momento de ofertório, porque a verdadeira oferta só acontece depois da Consagração.
j) O santo também fica melhor cantado, e pode ter, de vez em quando, uma coreografia. Como no glória, deve-se priorizar a letra oficial ou semelhante ao original.
l) Durante a consagração não se canta. Faz-se silêncio. Após a consagração, evitar cantos eucarísticos, para não desviar da dimensão central da Eucaristia, que é Ceia, banquete sagrado, renovação do mistério pascal, e não um momento de louvor à Presença Real.
m) A doxologia (Por Cristo, com Cristo) é o ponto alto; deve ser cantada, e o Amém bastante alegre e solene. Como se fosse o auge de uma ópera.
n) De vez em quando, pode-se cantar o Pai-nosso. Por se tratar de um texto bíblico, sua letra pode ser adaptada, mas nunca substituída.
o) Durante o abraço da paz, quando antes da comunhão, é melhor não cantar, mas deixar que as pessoas se cumprimentem, desejando a paz. Isso evita a dispersão.
p) Entre o abraço da paz e o Cordeiro, é mais importante cantar este último, momento da fração do pão, do Cristo que se parte e se reparte. A oração do Cordeiro de Deus nunca deve ser usada com o objetivo de conseguir silêncio após o abraço.
q) O canto para a comunhão deve ser mais processional. Quando possível, escolher músicas cuja letra fale da Eucaristia, ou esteja ligada ao Evangelho do dia ou ao tempo litúrgico que se celebra. Não necessariamente precisa ter a ver com comunhão. O canto de comunhão pode ser também substituído por música instrumental ou pelo silêncio.
r) Após a comunhão, fazer silêncio. É o momento da oração pessoal, de curtir o mistério celebrado. De vez em quando, pode-se também cantar ou tocar uma música, sem, contudo, sacrificar o tempo litúrgico reservado ao silêncio.
s) Quando se desejar que a assembleia participe do canto final ou de envio, é melhor cantá-lo antes de despedir o povo. Caso contrário, despede-se a assembleia e o grupo de animação do canto o entoa. Esse canto deve ser alegre, convidando para a missão, para continuar na vida a eucaristia celebrada. Termina a missa, começa a missão.
t) É preciso cuidado com as missas dos chamados “meses temáticos” (vocações, Bíblia, missões), missas temáticas, ou aquelas preparadas pelos “folhetos litúrgicos”, que, muitas vezes, levam a uma total dicotomia (separação) entre o canto e a liturgia. Nunca é demais repetir: a música não é um apêndice, um enfeite, algo paralelo, mas parte integrante da celebração.
9. Alguns problemas:
Em termos de comunicação, existem alguns problemas que não favorecem a execução do canto: instalação ou regulagem inadequada do serviço de som, abuso do microfone e do volume dos instrumentos, excesso de instrumentos.
A demasiada mudança de repertório pode dificultar a participação. Muitas missas transmitidas pela televisão, pela internet e pelo rádio fogem a toda orientação litúrgica. Não podemos embarcar na onda deles.
10. Animação do canto como ministério
Graças às equipes de canto, “em numerosas comunidades, as celebrações vão se tornando mais vivas e vibrantes, e o canto de toda a assembleia se amplia e cresce” (Doc. 79, nº 12).
Mas para cumprir bem esse serviço sagrado, verdadeiro ministério eclesial, é fundamental que os cantores e todos aqueles que exercem o ministério da música sejam portadores de uma profunda mística, uma motivação de amor e de fé, sem a qual o serviço prestado perderá o seu valor e não cumprirá a sua função.
11. Dicas para os compositores
11.1. Função ministerial da música3
Como a música litúrgica deve se adequar às normas da liturgia, é importante que obedeça a certos requisitos, como:
Esteja intimamente ligada à ação litúrgica;
Não use melodias que já revestiram outros textos não-litúrgicos;
Respeite a sensibilidade religiosa do nosso povo;
Empregue, de maneira equilibrada, as constâncias melódicas e rítmicas da folcmúsica brasileira;
Leve em conta o tempo do ano litúrgico;
Seja adequada ao tipo de celebração na qual será executada;
Esteja em sintonia com os textos bíblicos de cada celebração, especialmente com o Evangelho, no que se refere ao canto de comunhão;
Esteja de acordo com o tipo de gesto ritual;
Expresse o mistério vivido de determinada comunidade;
Tenha um texto bíblico, ou inspirado na Bíblia, uma linguagem poética e simbólica e um caráter orante;
Se expresse na linguagem verbal e musical, no “jeito” da cultura do povo local;
Não seja banal, mas artística e bonita.
É importante resgatar expressões culturais presentes na prática popular, como folias do Divino, ternos de Reis, e tantas outras.
Levar também em consideração a herança da cultura africana e indígena, tão presente em nosso povo.
11.2. Letrista
De acordo com o documento 79 da CNBB, dos números 224 ao 231, em se tratando de Liturgia, a letra tem prioridade sobre a música; ou seja, a música está a serviço da letra. A melodia deve ajudar a realçar o conteúdo, a poesia, a dimensão da fé.
A primeira inspiração deve ser a vida, porque as comunidades se reúnem para celebrar a vida. Por isso, é importante que o compositor esteja bem ligado ao povo e sua cultura, seus anseios e lutas. Como diz a Gaudium et Spes: As alegrias e esperança, tristezas e angústias do povo, devem ser também nossas.
Uma exigência fundamental é a referência à Bíblia, Palavra de Deus que ilumina e orienta a vida. É fundamental o conhecimento bíblico e familiaridade com a Palavra de Deus. Os salmos e cânticos bíblicos são uma ótima fonte de inspiração; o melhor modelo de letra.
Deve-se também levar em conta a função específica do canto ao longo da celebração, estar de acordo com o significado e o objetivo de cada momento. As letras sejam poéticas e orantes, não explicativas ou doutrinárias. A celebração não é para ser explicada, mas para ser vivida. Evitar expressões desbotadas, forçadas, ou um simples jogo de rimas.
As letras sejam apropriadas para os diversos gêneros musicais e suas funções específicas na liturgia: hinos, com ou sem refrão, recitativos, aclamações, proclamações, responsórios.
Deve-se priorizar a métrica, para facilitar o encaixe da melodia; a cadência ou ritmo, com os acentos no lugar certo; a rima, que ajuda a memorizar e dá beleza; as figuras de linguagem, como metáforas e símbolos que dão beleza e leveza à letra.
Toda música destinada a encontros e celebrações deve ter um caráter comunitário, nunca subjetivo e individualista (voltada para o “EU”). Ninguém celebra sozinho. A celebração é da comunidade e para a comunidade. O documento da CNBB registra alguns sintomas preocupantes das letras atuais:
a) substituição dos textos litúrgicos por letras de grande pobreza existencial, poética e teológica;
b) exagerado sentimentalismo, com a primeira pessoa, desvirtuando a dimensão comunitária da fé, numa busca de emoções que reduz a relação com Deus a mero jogo de sentimentos, sem a profundidade e a amplitude do compromisso cristão;
c) exagerado militantismo: cantos que pregam com insistência a luta pela justiça social, sem levar em conta a experiência espiritual, as questões de fé, a referência essencial a Jesus Cristo, a dimensão poética e orante do canto litúrgico.
No número 231, o documento nos deixa alguns lembretes:
a) Os versos tenham um fraseado popular, evitando frases demasiadamente longas;
b) A letra dos hinos estróficos siga a mesma métrica em todas as estrofes, o mesmo padrão de sílabas acentuadas (ou tônicas) e não acentuadas (átonas), para evitar atropelamentos na hora da execução. A métrica é o número de sílabas de cada verso.
c) Embora a rima sozinha não seja por si só poesia, ela facilita a memorização e a execução do canto, além de tornar a letra mais popular.
d) Usar sempre de imagens, como as metáforas, e símbolos.
11.3. Músico
Dos números 332 ao 238 o documento traz orientações para os compositores. Começa dizendo que uma boa dica é mostrar primeiro a composição para outros músicos avaliarem, além de fazer um teste com algum grupo ou comunidade.
A música deve levar em conta o momento litúrgico e sua destinação. Além disso, deve se adaptar à cultura do povo, mas evitar o uso de melodias já existentes, com uma simples adaptação.
Quanto à estrutura e à execução, a música tem três formas:
Direta: executada pelo grupo ou assembleia, sem refrão ou alternância (leituras, prefácio...)
Dialogada: solista e grupo, solista e assembleia, grupo e assembleia (saudações, salmos, diálogo do prefácio, ladainhas)
Alternada: dois grupos da própria assembleia, como lado A e lado B, ou coro masculino e feminino.
O estilo mais comum e mais fácil para o povo é a música que tem um refrão e as estrofes, pois facilita a participação da assembleia.
Alguns lembretes:
A melodia deve se casar com a letra, estar de acordo. Se a letra diz uma coisa e a música diz outra, fica confuso. Por exemplo, a melodia do Ato penitencial deve ser mais orante, expressar arrependimento e perdão. A letra tem prioridade na liturgia, e a melodia deve se adaptar a ela.
A música litúrgica deve ser feita prioritariamente para ser executada pela assembleia. Por isso, devem-se evitar músicas específicas para solo, bem como evitar o uso de notas muito graves ou muito agudas. Que tenham pausas de respiração nos momentos certos, que o acento rítmico coincida com o acento tônico da palavra.
Evitar, por exemplo que, ao cantar, tenha-se que pronunciar “terrá, horá, lóuvor”).
A linha melódica deve ser fluente, bonita e lógica, que dê beleza, torne a música mais fácil, e se evite que fique enfadonha, cansativa, monótona, repetitiva ou difícil. A música não precisa ser banal, pode ter variantes e “dissonâncias” que dêem beleza, mas não deve ser muito complicada e difícil para o povo.
Já os cantos para encontros e para a evangelização, embora devam levar em contas muitas das orientações acima, têm uma liberdade maior.
Acréscimo:
BENTO XVI – na Exortação apostólica Sacramentum Caritatis nº 42 afirma: “Na arte da celebração, ocupa lugar de destaque o canto litúrgico. Com razão afirma Santo Agostinho, num famoso sermão: « O homem novo conhece o cântico novo. O cântico é uma manifestação de alegria e, se considerarmos melhor, um sinal de amor ». O povo de Deus, reunido para a celebração, canta os louvores de Deus. Na sua história bimilenária, a Igreja criou, e continua a criar, música e cânticos que constituem um patrimônio de fé e amor que não se deve perder. Verdadeiramente, na liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia.
Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo — no texto, na melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos.
Enfim, embora tendo em conta as distintas orientações e as diferentes e amplamente louváveis tradições, desejo — como foi pedido pelos padres sinodais — que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana.
4 partes da Missa:
Ritos Iniciais - Canto e Procissão de Entrada, Acolhida, Ato Penitencial ou Bênção da Água e Aspersão, Hino de Louvor (Glória) (exceto no Advento e na Quaresma) e Oração do Dia (Coleta)
Liturgia da Palavra - Primeira Leitura, Salmo Responsorial, Segunda Leitura (nos domingos e solenidades), Sequência (quando prescrita), Aclamação ao Evangelho, Proclamação do Evangelho, Homilia, Profissão de Fé (Creio) (nos domingos e solenidades), Oração dos Fiéis (Oração Universal)
Liturgia Eucarística:
1ª Parte - Preparação das Oferendas: Preparação do Altar, Procissão das Oferendas, Apresentação das Oferendas, Coleta, Lavar as Mãos, Orai Irmãos e Irmãs, Oração Sobre as Oferendas
2ª Parte - Oração Eucarística (Anáfora): Diálogo Inicial, Prefácio, Santo, Epiclese
(Invocação do Espírito Santo), Narrativa da Instituição e Consagração, Anamnese (Memorial), Oblação (Ofertório), Segunda Epiclese, Intercessões (Orações pela Igreja) e Doxologia Final
3ª parte - Rito da Comunhão: Pai-Nosso, Embolismo, Doxologia, Oração pela Paz, Abraço da Paz (facultativo), Fração do Pão, Cordeiro de Deus, Convite à Comunhão, Apresentação (Eis o Cordeiro de Deus...), Resposta da Assembleia (Senhor, eu não sou digno/a...), Canto e Distribuição da Comunhão, Ação de Graças, Interiorização (muito importante), Purificação dos Vasos Sagrados e Oração Depois da Comunhão
Ritos Finais - Avisos, Bênção Final, Despedida e Canto Final
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