“Capelinha de Melão, é de São João, É de cravo é de rosa é de manjericão. São João está dormindo não acorda não, acordai, acordai, acordai, João” (de Braguinha, em parceria com Alberto Ribeiro, para que Emilinha Borba cantasse em 1949).
Capelinha de melão não é o diminutivo de capela nem é feito com melão. Segundo Câmara Cascudo, o termo capelinha de melão designa um “grupo de foliões dos festejos populares sanjoanenses, ornados de capelas de folhagens, marchando em grupos em demanda do milagroso banho, e de volta em animadoras passeatas”. É portanto, um folguedo popular em um pequeno povoado. Em Portugal “capela” pode ser uma coroa de flores ou folhas. Como na canção a coroa pode ser de cravo, de rosa ou de manjericão. Em Caraúbas, Rio Grande do Norte, a “capela” é uma pequena coroa de flores feitas com flores do melão-são-caetano, que eram usados como ornamento nesses folguedos.
Na praia de Caraúbas, a “Capelinha” é um folguedo junino realizado na noite de São João, com cânticos pastoris e danças. Acompanhado por orquestra de violão, rabeca e clarineta solista (atualmente incluem-se sanfona e pandeiro), um grupo de moças, em número par, exibe-se num tablado ao ar livre, com roupas e sapatos brancos, tendo à cabeça uma capelinha de flores de melão-de-são-caetano, em torno de um diadema enfeitado com papel crepom. A coreografia imita a Lapinha, na disposição das pastoras em cordões e no elenco das jornadas. Enquanto na Lapinha se homenageia Jesus Cristo, na Capelinha a homenagem é para São João.
Cada dançarina possui uma tira larga de cetim ou papel crepom, vermelho ou azul, que, partindo do ombro esquerdo, termina por um grande laço na cintura direita. Estão elas divididas em duas alas, entre as quais caminha a Diana, figura clássica, com faixas azul e vermelha entrecruzadas no busto.
As participantes cantam e dançam, tendo à mão uma lanterninha com vela acesa e uma bandeirola com a efígie do santo. Depois que sobem ao palco-tablado, deixam as lanternas, mas continuam segurando as bandeirinhas. O bailado tem de oito a dez partes, com coreografia e cantos próprios, terminando todas com o estribilho: “Capelinha de melão / é de São João, / é de cravo, é de rosa, / é de manjericão” — que também é canto dos foliões da capela.
No fim da última parte, duas dançarinas retiram o diadema da cabeça e, substituindo-o por panos enfeitados com moedinhas de papelão dourado ou canutilhos, assumem aspecto de ciganas (hoje substituídas por baianas): com uma bandeja na mão, percorrem a plateia masculina pedindo esmolas. Enquanto colhem as esmolas cantam e esse canto é respondido pelo coro das jovens que ficaram no tablado.
“São João está dormindo, não acorda não / Acordai, Acordai, Acordai João “
Luís da Câmara Cascudo, no seu Dicionário do Folclore Brasileiro, conta essa lenda: “São João, estando deitado no colo de sua mãe, que o embalava, pergunta quando é o seu dia. Santa Isabel manda que ele durma. E São João dormiu na sua noite querida, porque, se estivesse acordado desceria à terra e tão alegre ficaria que todo o mundo seria destruído pelo fogo”. Talvez seja por isso e também pelo frio do mês de junho, que a festa se dê em torno da fogueira. Os fogos de artifício seriam para acordar São João.
Já parou para pensar nessa musiquinha da Capelinha de melão? Logicamente, você imagina que é uma capela – igreja – em miniatura, feita da fruta melão, cheia de cravo (que se coloca na comida) e da erva manjericão, não é isso? Errado!
Dizem que a “capelinha de melão” vem a ser de um folguedo junino, tipo pastoril, que acontece na noite da festa de São João, no Rio Grande do Norte. A origem da palavra Capela significa “reunião de foliões durante a festa de São João”. Em Portugal, Capela é uma “coroa de flores ou folhas”. Sendo assim, tudo começa a fazer sentido.
Ou seja, certamente, esta apresentação tem origem portuguesa. Pois, as participantes deste folguedo potiguar apresentam-se dançando em numero par, com roupas e sapatos brancos e levando na cabeça uma capelinha de flores de melão de São Caetano – que nada mais é do que um diadema de flores da planta melão de São Caetano. Faixas azuis ou vermelhas partem do ombro se entrecruzam no busto e finalizam com um grande laço abaixo da cintura. As meninas dançam e cantam carregando nas mãos uma lanterna feita com a vela acesa e uma bandeirola de São João.
A dança é embalada por música, tocada por instrumentos como violão, rabeca, clarineta solista, sanfona e pandeiro. Ao chegar ao final da dança, duas meninas tiram o diadema de flores da cabeça e colocam em seu lugar, tecido enfeitado com moedinhas de papelão dourado, parecendo ciganinhas, e saem com uma bandeja na mão pela plateia masculina pedindo doações em moedas. Enquanto recolhem, o canto é respondido pelo coro das jovens que ficaram no tablado.
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